Inocente

No dia 2 de setembro de 2013, às 22h30, reunido entre meus pôsteres, camisas colecionadas, medalhas, troféus, títulos conquistados e contusões latejantes de toda noite, com a experiência de 6 anos como amador e 13 como profissional, ex-aluno dos eméritos mestres Pinheiro, Zagalo, Evaristo de Macedo, Claudio Coutinho, Didi e Carlos Alberto Parreira, ao analisar as imagens do suposto delito que geraram as acusações sobre o réu William, do Cruzeiro, citado nos autos por não obedecer critérios discutíveis do “Fair Play” criado por uma entidade sem ética alguma, como a FIFA, na partida em que o clube mineiro derrotou o CR Vasco da Gama por 5×3, no Mineirão, após ouvir cada testemunha da tribuna Linha de Passe, da ESPN, declaro : William é inocente.

Em outras modalidades esportivas, como o Boxe, o MMA, o próprio Judô, é permitida uma breve reverência ao adversário, que dura apenas alguns segundos, e o ataque é logo desferido. E os olhos do citado William, sua expressão repetida à exaustão pela mídia esportiva desta segunda-feira, no momento do suposto delito é : primeiro, de reverência, de gentileza. Instantes seguintes, ao perceber que seu adversário Fágner dominara com dificuldades o objeto da disputa e se preparava para contra atacar, de profunda percepção e concentração sobre a partida.

Ao contrário dos seus companheiros de posição, Fred, do Fluminense, focado em novelas e beijos, de Luiz Fabiano, do São Paulo, sempre brigado com a vida e com a torcida, pois ambos teriam virado as costas pra jogada e jogado a elucidação do ataque por conta das suas frágeis zagas, William mostrou a cara e a disposição de uma equipe em busca da vitória. Que, não por acaso, mas por méritos, lidera o campeonato brasileiro.

Quanto às testemunhas de acusação, Dorival Júnior e Juninho, ambos do Vasco, que alegaram ter sido o ato praticado num país que premia o ilícito, do levar vantagem em tudo, declaramos que o treinador não tem dado exemplos quando assume, já no dia seguinte, o lugar de um companheiro sumariamente demitido. Se fosse tão ético, liderava uma manifestação pacífica para que nenhum treinador assumisse o lugar de um colega com contrato vigente.

Quanto a Juninho, um excelente jogador, autor de acirradas acusações contra o réu, não temos, na história esportiva, notícias do seu envolvimento na defesa de entidades de sua classe, como o sindicato dos atletas profissionais de futebol e AGAP. Qualquer referência de luta em prol da melhoria de condições dos jogadores de futebol do país, constantemente vítimas dos abusos dos cartolas e da CBF.

Se desejam, Dorival e Juninho, dar exemplos ao país que abre suas lentes para ouvi-los toda quarta e domingo, entrando nos lares de cada brasileiro apaixonado como um pastor a reger suas ovelhas nas arquibancadas, como um Félix com a nação dividida entre a homofobia enraizada e a admiração pela dramaturgia, melhor que parem de procurar desculpas após cada derrota e enxergar o mérito de quem os supera durante os noventas minutos.

Vencer, empatar e perder são as três únicas sentenças que o futebol pode proferir. Ser feliz e ético, no esporte e na vida, é dar seguidos exemplos de honradez ao conviver com altivez perante cada uma.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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