ESTÃO CRIANDO UMA CRISE NO BARCELONA

Guardiola montou o melhor time do mundo e deu um tempo para descansar

Há um vício na imprensa – não sei se lá fora também é assim – que é querer adivinhar os fatos, se antecipar, chegar primeiro. O que quase sempre dá errado. Agora “descobriram” o fim da era barcelonista, baseado num resultado incomum na história recente do time espanhol. Poucos tiveram o bom senso de analisar em que condições o Bayern impôs uma goleada ao Barcelona, jogando em casa, com o time de Tito Vilanova sem o maior jogador do mundo, que estava em campo fazendo número, etc.

Não quero ser repetitivo, mas apenas lembrar que três dos quatro gols marcados pelos alemães foram irregulares (veja em matéria mais abaixo). A vitória, incontestável. Se não fosse por quatro gols seria de outra forma, mas venceria quem jogou  melhor, e não deixou jogar. Isso é um fato. Outro é querer  mudar a história, coisa que nenhum homem conseguiu e jamais conseguirá. Pode retardar, mas não se muda o seu curso. Ela será escrita contra ou a favor da vontade humana.

Vamos aos fatos. Esse time do Barcelona se não é o melhor de todos os tempos, incluindo o Santos de Pelé, está perto disso. Não faço comparações com épocas distintas. Seria como afirmar se o rei de futebol jogaria hoje e como seria Messi se atuasse nas décadas de 1960 e 1970. Impossível chegar a uma conclusão justa. Pela história e números, será muito difícil para qualquer jogador conseguir o que o atleta do século conquistou.  Inclusive Messi, o melhor do momento. Ser o melhor de todos os tempos é um longo caminho a percorrer.

O Barcelona passa por uma transição importante. Ficou sem Pep Guardiola, muito novo para sua função, mas consagrado por ter montado o melhor time do mundo. Ganhou seis títulos consecutivos e formou a base da seleção que conquistou duas copas da Europa e o inédito título mundial, que poderá repetir no Brasil, em 2014. Estressado, pediu um tempo e foi descansar, se atualizar nos Estados Unidos. O time não pôde fazer isso e tem que entrar em campo a cada quatro dias.

Foi tão importante para o futebol espanhol que chegou a mudar o apelido da seleção. Passou de “Furia”, que simbolizava a forma de jogar do passado, mas lembrando um touro, símbolo do país, que um time. Passou a ser chamada novamente “La Roja”, pela cor da bandeira, como nos velhos tempos de Puskas, Di Stéfano (naturalizados), Gento e outros grandes craques. Tito Vilanova, que segundo uma fonte na Espanha era quem fazia os treinos técnicos do time, assumiu mas tem uma luta mais importante a fazer, tratar da sua saúde.

A maioria do grupo está numa maratona desde 2008, quando a Espanha conquistou o título mais importante do continente. Em cinco anos esses jogadores disputaram duas copas da Europa e a copa do mundo da África do Sul, intervalando com o campeonato espanhol, Copa do Rei, Liga dos Campeões, amistosos da seleção, Supercopa da Europa e incontáveis viagens de jogadores (poucos, mas alguns são convocados por suas seleções) estrangeiros. É uma vida dura. Um dia o corpo e a mente pagam a conta. 

Vale lembrar, para que não haja nenhuma dúvida, que o Barcelona, dirigido por Pep Guardiola ganhou 18 títulos em cinco anos, sendo duas vezes campeão mundial (2009-2011), duas Supercopa da Europa (2009-2011), duas Liga dos Campeões (2008-09 e 2010-11), tricampeonato espanhol (2008-09, 2009-10 e 2010-11), duas Copa do Rei (2008-09, 2011-12), uma Copa Audi (2011) e três Troféu Juan Gamper (2008, 2010 e 2011).

Um atleta de elite se forma com um tripé básico: esforço, repouso e alimentação. Sem esse trio, uma comissão técnica de qualidade e suporte do clube, nenhum grupo será chegará ao apogeu da forma, muito menos o manterá por longo período. Foi assim com o Honved (década de 1050-60), da Hungria, o Ajax, de Crujiff e o Santos, de Pelé. Um dias eles terminaram – são fenômenos cíclicos – e nunca voltarão a ser os mesmos. Com o Barcelona será assim, mas não agora. O Barcelona está com fastio de bola, coisa passageira.

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