ENTRE POÇAS E LAMAS

Time misto é coisa de caráter misto. Meia fatia de ética, a ciência da moral, outra fatia de jaça, sinônimo de mancha na pedra da lisura. O que o treinador Eduardo Baptista e seus cúmplices Siemsen e Bittencourt fizeram com o Vasco, no domingo, foi um desrespeito à ética esportiva. Um tapa na cara dos valores sagrados que o esporte sempre nos ensinou. Eu, que escrevo, você, torcedor, que trabalha, ainda não entramos em férias. Nem os deputados, os primeiros a voar de seus gabinetes, inaugurando oficialmente o recesso, deixaram Brasília. Então, porque motivos deram férias ao Gum e ao Marlon, a seus protetores Jean e Cícero, escalando nos seus lugares Nogueira, Arthur, Jonhatan e Robert, quando um coirmão, não um inimigo, precisava que  entrássemos  em campo com nossa  força máxima?

Como eu, Edinho, Pintinho, Cléber, Rubens Galaxe, Abel Braga, Nielsen e Marinho, entre tantos, formados nas Laranjeiras desde os infantis por Pinheiro, Telê, Zezé Moreira, Célio de Barros, Sebastião Araújo, Pindaro e Roberto Alvarenga, recebemos lições de duas cartilhas: a da bola e da ética esportiva. Deixamos nossas casas no interior e nos alojamos nas concentrações da Urca e da Rua das Laranjeiras, mas eles anexaram os valores da família, e dos nossos colégios, nas aulas de futebol que deram para a gente. Vencer, sim, se possível, respeitar o adversário, sempre, era a regra numero um do nosso manual. O Fluminense era a Universidade da disciplina. Saímos de lá cheios de títulos, faixas, troféus e medalhas que guardamos com carinho, mas nossa formação cidadã foi o melhor que carregamos dali. Para o resto de nossas vidas.

Passamos o domingo com a calculadora nas mãos. Diante de tantas possibilidades de ascensão e queda em função de uma bolinha surgida na tela, vi, por segundos, nossa insegura arbitragem apontar a marca do Penalty quando Nenê foi deslocado dentro da área. Se marcasse e fosse convertida, o Vasco permaneceria na primeira divisão. Mas no mesmo instante, em Florianópolis, o residente zagueiro Artur para infantilmente em uma jogada de contra ataque. Como ultimo homem, vai aprender na vida que primeiro o zagueiro marca,  depois imagina que o que deveria ser marcado precisará do aval  de um áudio para ser consumado. Tem apito em campo, só ele dá para e siga a uma jogada. Daí o Marcão, mais experiente e rodado que os quatro improtetores juntos, entra na cara de um goleiro reserva, o Julio César,  com as mãos tão esticadas como a de um golfinho, e garante a vaga para o time da casa, retirando as ultimas chances vascaínas.

Sou um eterno otimista. Depois de tantos escândalos e denúncias de corrupção jamais divulgadas e punidas, seremos certamente um país melhor em 2016. Mas quando Sergio Moro, Rodrigo Janot, O Ministério Público e a Polícia Federal  vão direcionar sua justiça para o futebol? O que o Fluminense fez domingo com o Vasco Eduardo Cunha fez na política. Se o deputado não declarou suas contas em um paraíso fiscal, os cartolas tricolores precisam ser detidos por enviarem ao vivo, a um paraíso imoral, exemplos que ferem nosso orgulho. De ser cidadão  brasileiro e torcedor tricolor. Pois pior que as poças que impediram o meio campo vascaíno de jogar, foi o mar de lama em que Eduardo Baptista, Mario Bittencourt e Peter Siemsen afundaram domingo nossa bonita e respeitada história.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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