É PRECISO MUDAR O CONCEITO DE DOPING

Sou contra a forma como é conduzida a tentativa de proibir o doping. Pune gente inocente, dá manchetes. Há casos e casos, que deveriam ser tratados separadamente, de acordo com o grau de envolvimento do atleta e o material usado para se “dopar”. Há um grande equívoco nessa engrenagem. E essa prática precisa – urgentemente – ser modificada, a menos que as “autoridades” queiram assim, o que não duvido.

A primeira discussão é considerar o que é doping. Para a FIFA o texto fala, literalmente, em “tudo aquilo que modifica a performance”. Partindo daí, há muito a se mexer, tratando cada situação de forma a impedir o uso de substâncias que tragam benefício ao rendimento do atleta. Ora, cocaína, convenhamos, não melhora rendimento de ninguém. É mais um caso policial que desportivo. Então, o tratamento tem que ser outro.

Há uma lista de medicamentos que não podem ser usados, coisa de muitos anos, que precisa, como qualquer atividade, ser revista periodicamente, se não vamos continuar punindo gente que precisa de ajuda, não de castigo. O que fazer – para falar do caso mais recente – com o jovem  Michael, do Fluminense, pego, aos 20 anos, no exame anti-doping ? Que dizer do Deco, jogador de altíssimo nível, qualidade técnica indiscutível, acusado de se dopar ?

Esse menino veio do interior de Minas Gerais, ganhava cerca de 3 mil reais e estava com contrato pronto para assinar, recebendo cerca de 40 mil por mês, e ficaria como reserva de Fred, contra o Emelec. Foi afastado e desligado também da seleção sub-20. Michael – como muitos outros – foi vitima das periguetes e das longas noites da Washington Luis, caminho para Xerém. É mais uma vítima, repito, de uma cidade maravilhosa mas muito perigosa para um ajudante de pedreiro do pai, que tinha tudo para se dar bem.

“Punir severamente, para que sirva de exemplo”, como querem alguns, não é por aí. Como ele vai viver, se parar de jogar por dois anos, se joga bola desde muito cedo, teve os estudos prejudicados e se meteu numa furada ? É mais um menino envolvido com drogas, que precisa ser recuperado, orientado, para voltar a fazer o que sabe, construir seu futuro e de sua família. É mais um filho da  sociedade discricionária, hipócrita, covarde.

Uma pessoa que usa um descongestionante nasal na noite anterior ao jogo, não estará dopada no dia seguinte, quando for atuar. Nada vai alterar sua performance. Acho isso um   grande  equívoco  . Esse atleta não vai tirar proveito de nenhuma substância,como prevê a lei. Falta orientação e presença dos clubes na assistência social aos atletas em formação. Há uma infinidade de substâncias consideradas doping, que não são “doping”.

Não é o caso da cocaína e outras substâncias que não são “fabricadas” pelo organismo. Ela é excitante, estimulante, quando consumida, mas e usada depois de 24 horas, terá o mesmo efeito ? Pelo que sei, nunca houve caso de qualquer atleta que tenha sido pego cheirando cocaína no vestiário. Minha dúvida está exatamente nesse conceito de “modificar a performance”. No caso do atleta Ben Johnson, que fazia uso da anabolizantes, o mínimo que deveria ser punido era com a eliminação e ponto final.

Há, entretanto, que se considerar o uso da substância Furosemida, componente de diuréticos, que pode ser usada para perder peso – nesse caso pode modificar a performance – está caracterizado, ou, em grande dose, para mascarar o uso de anabolizante. Por isso está na lista negra.  A Furosemida é a mais potente substância que existe na medicina, a mesma que foi encontrada no exame feito por Deco.

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