E NOVAMENTE ELE CHEGOU

A gente conversa muito pelo Skype. Os encontros, raríssimos. Por isso o reencontro, em Copacabana é muito festejado, ao lado do irmão Dudu, que mora em Tampa, na Florida. As horas voam, a saudade continua. O papo fica para o dia seguinte, no Leblon, Pizzaria Guanabara, velha conhecida. Chega Deni Menezes e vira mesa redonda. Ligo o gravador e o tempo passa. O papo está quase em dia, ficou faltando alguma coisa. Transferido para a volta de Conselheiro Pena, onde a caravana segue cedo carregada de presentes e saudades da família. 

Fio mudou pouco, mesmo sorriso e alegria, só a conta bancária, mais gordinha, nada que possa interessar ao “Leão” daqui. O de lá já beliscou o que podia. É uma pessoa feliz, que lutou muito e ganhou o que merecia: respeito, admiração e uma música, privilégio de poucos. De americano tem um “yeh”, repetido muito, e a certeza de ter encontrado o seu paraíso. Voltar ao Brasil só para passear, ver os amigos, beber duas caipirinhas, nunca mais que isso, falar do Flamengo e lembrar os bons tempos. Tem o hábito de perguntar pelos amigos de bola,  e conta muitos casos, que ele se encarrega de valorizar com o sorriso inconfundível.

Fio e Iata Anderson, no bairro do Leblon, em frente ao Jobi

Para quem não viu, João Batista de Salles nasceu em Conselheiro Pena, dia 19 de janeiro de 1945, atuou no Flamengo de 1965 a 1973, jogou 281 partidas e marcou 77 gols. Venceu 124, empatou 88 e perdeu 69. Estreou perdendo para o Bahia, na Fonte Nova (0x3), amistoso, substituindo Samuel, dia 21-04-65, ao lado de Franz, Murilo (Jarbas), Ditão, Zózimo e Paulo Henrique; Carlinhos e Fefeu; Amauri, Airton, Berico (Samuel) (Fio) e Paulo Alves. Jogou mais quatro partidas, três pelo Torneio Rio-São Paulo e um amistoso. Estreou oficialmente vencendo o Palmeiras, no Morumbi, por 2×1, pelo Rio-São Paulo, quatro dias depois, jogando na ponta direita. 

Fio encerrou carreira no Flamengo enfrentando o mesmo Bahia, da estréia,  dia 7 de fevereiro de 1973, empate 1×1, pelo Torneio do Povo, no estádio da Fonte Nova, ao lado de Renato, Moreira, Chiquinho Pastor, Fred e Rodrigues Neto; Chiquinho e Paulo Cezar Lima; Rogério, Sergio (Samarone), Fio e Arilson, que fez o primeiro gol do jogo. Aos 28 anos, oito de profissional, Fio deixou sua segunda casa com a alegação de estar fora de forma, gordo. Por ironia, nesse mesmo ano Zico iniciava sua trajetória como titular para se tornar o maior jogador da história do Flamengo. Mas não jogou na despedida do amigo.

SEMPRE FLAMENGO

 – O Zico me garantiu que não há registro de uma família ter quatro jogadores no mesmo time, como a nossa. Primeiro veio o Germano, de Minas, ficou de me levar e esperei uns quatro meses. Aí vim para o Rio com a mesma pessoa que o trouxe (Deusdedt Barros) que me levou para Niterói e nem assim Germano me levava para treinar. Fiquei dois meses esperando até que o Deusdedt resolveu me levar a Gávea. Cheguei no Flamengo com 15 anos. O Germano tinha sido cortado da seleção, em 1962, e vendido ao Milan, junto com o Amarildo e o Chinesinho, se não me engano. Depois vieram o Michila e o Dudu. Tinha mais um, que chegou a treinar mas tinha problemas de asma e não deu.

POR QUE É RUBRO-NEGRO

 – Desde criança, quando ouvia jogos do Flamengo, lá em Minas, meu ídolo sempre foi o Dida, jogadoraço. Cheguei a ver alguns jogos dele, ainda no Flamengo. Olha, foi o mesmo que o Zico para mim. Aliás, o “Frango” também o tinha como seu ídolo. Acho até que o Flamengo deve ao Dida uma homenagem muito grande, do tamanho do seu futebol, de sua importância para o clube, principalmente na formação de torcedores. Ele ajudou muito a construir essa nação que é hoje o torcedor rubro-negro, como o Zico. Se somar o percentual dos dois vai ser um absurdo. Depois o conheci, na Gávea, onde ele trabalhou depois que parou de jogar. Um cara fantástico, super simples, até demais. O Flamengo deve muito ao Dida.

Com Deni Menezes

MESMO QUANDO FOI MANDADO EMBORA

 – Machuca um pouco, viu, por que a gente dá o sangue, se esforça, joga muitas vezes sem condições, não que obriguem, mas você vai, com o coração, mas você quer ajudar. Numa excursão a África, jogamos em Casablanca, depois fomos a Europa e disputamos o Troféu Teresa Herrera, contra dois times de Portugal e o Barcelona, onde jogava o Silva Batuta. Dois dias antes da decisão peguei uma gripe violenta, fazia muito calor, mas acabei entrando por falta de atacantes e fiz o  gol do título. Faria tudo de novo, a gente gosta do clube, ta lá, faz o sacrifício, mas é assim mesmo, sou realista, quando estava para parar de jogar futebol comecei a me preparar. Não sei se o fato de ter parado fora foi melhor, mas acho que foi uma coisa normal. Com relação ao Flamengo, estou chateado até hoje, mas a vida continua, faz parte. Eles me puseram na calçada da fama, eu e o Germano, ta bom.

MAS NEM O ZICO ESCAPOU

 – Em 94 (copa do mundo) fui ver um treino do Japão e perguntei ao Zico sobre a possibilidade dele trabalhar no Flamengo, se não tinha medo, ele respondeu que se fosse convidado iria, falei que lá a barra é pesada mas ele disse que dava para trabalhar, mesmo assim, dá para fazer muita coisa, mudar muita coisa. Eu torcia para ele não aceitar mas aconteceu e vim ao Brasil, logo depois, e fui na Gávea conversar com ele. Alertei sobre as traíras, ele sabe muito melhor que eu, falei para ele ficar ligado. Uns dias depois ele saiu por causa daqueles problemas todos que criaram pra ele. Alguém pode duvidar da honestidade do Zico, do Zico, o mundo ta perdido, cara. Um sujeito íntegro, respeitado, respeitável, fazer um negócio daquele com o cara. Aí pensei, se eles fazem aquilo com o Zico, acho que estão me tratando como um rei, vou reclamar de que ?  Fiquei muito triste, mas no fundo eu sabia que não ia dar certo. O Flamengo é muito complicado.

Lembrando dos velhos tempos da Pizzaria Guanabara no Leblon

UMA AVENTURA AMERICANA

– Joguei no Flamengo de 1965 a 1973. Saí no fim de 1973, foi meu último contrato, tenho ele até hoje. Um dia o Rildo (ex-Botafogo, Santos, Cosmos, seleção) me chamou para fazer um amistoso em Brasília, pelo CEUB. Depois me convidaram para disputar o brasileiro e fiquei seis meses lá, joguei no Mané Garrincha e voltei ao Rio. Três meses depois o Flamengo me emprestou ao Paysandu, já me dando o passe. Fiquei três meses em Belém, depois fui para a Desportiva Ferroviária, em Vitória (ES), onde fiquei cinco meses. Voltei ao Rio e fiquei parado, quando fui chamado pelo Dr. Joaquim Reis (advogado e procurador de alguns jogadores) que me apresentou ao Paulão, ex-goleiro do aspirante do Vasco, que estava no Rio, de férias, e jogava nos Estados Unidos. Ele me convidou, fiz as malas e assim aconteceu minha ida para a America. Comecei no NY Eagles, que era da segunda divisão, não jogava contra o Cosmos, mas encontrei o Carlos Alberto Torres, Pelé, que estavam jogando lá. Nesse time jogavam o Edu (ex-Santos, ponta esquerda), Miflin (peruano, da seleção), Paulo, ponta direita do São Paulo, e uns jogadores do México, El Salvador, daqueles lugares ali. Eles viajaram para a Europa e não pude ir por causa de visto.

O SOL DA CALIFORNIA

– Fui para Los Angeles e fiz contatos com uns empresários que estavam querendo jogadores para montar um time e depois vender profissionais para os americanos, mas a coisa não vingou muito.  Fiquei por lá uns cinco meses e voltei a Nova Iorque, o time tinha voltado da excursão, mas acabei em San Francisco e fui parar no Mercury, um time de russos que estiveram no Brasil, depois da guerra, falavam português e estavam vivendo em lá. Esse time acabou e nessa época tinha um brasileiro, Felipe, que jogou na Portuguesa (começou no futebol de praia). Terminou o campeonato e eu estava gostando do lugar. Comecei a amadurecer a ideia de parar. “Acho que está na hora de parar”, pensei. Acabei decidindo: “vou ficar aqui”. E fiquei. Mas aí vieram os pensamentos mais sérios, a realidade. Parar para fazer o que, se não havia me preparado para fazer outra coisa, minha vida tinha sido o futebol, desde os 16 anos ? Aí a coisa ficou complicada. Fui levando a vida mas pensando em arrumar alguma coisa. Tudo era muito difícil, eles não dão emprego a quem não tem experiência, isso é fundamental. Além disso eu não falava nada em inglês. Estava num mato sem cachorro. Enquanto pensava, ia levando a vida de um cara sem emprego numa terra estranha e apenas alguns raros amigos. Liguem para Nova Iorque e avisei ao pessoal que não ia mais jogar, tinha parado. Parei e meu último clube foi o Mercury, de San Francisco.

DIFÍCIL FOI ARRUMAR EMPREGO

 – Difícil por causa do inglês, não tinha amigos, encontrava a turma só aos domingos, no Golden Gate Park, um lugar maravilhoso, com três campos e a boleirada brasileira se encontrava lá. Tinha um campeonatozinho e o Brasileirinho jogava contra os guatemaltecos, hondurenhos, mexicanos, salvadorenhos, equipes de todas as partes, mas a gente só se encontrava aos domingos, dia de semana a gente não via ninguém. Um dia encontrei o Antonio, que trabalhava num restaurante que me disse “olha tenho um emprego para você mas não sei se você vai querer”. Não sei o que é, mas não tendo nada de errado, eles pagam, vamos nessa, respondi. Eu estava legal, com o visto para trabalhar, que eu havia conseguido renovar para continuar jogando, mas não era uma coisa permanente, que pudesse ficar por lá, de vez. Naquela época era fácil e quando parei de jogar ainda tinha três meses de visto. Depois, fiquei três, não, dois anos ilegal.

O CINTO APERTOU

 – Encontrei esse garçom e perguntei “Toninho, cadê o emprego que você falou, estou precisando trabalhar, parei de jogar tenho que mandar dinheiro para a minha filha, pagar aluguel”. Ele me disse “é o seguinte, estou sem jeito de falar com você”… Eu insisti, que é isso, fala logo, é pra roubar ? Aí ele resolveu dizer que era para ser t-shirt “eu perguntei o que é isso”, ele respondeu “lavar pratos, lavar pratos”, disse sem jeito. Eu perguntei, “eles pagam ? “pagam”, a gente tem que fazer alguma coisa, até agora ninguém me trouxe nada melhor, vamos lá ver. Os patrões dele era um casal de suíços, com três filhos pequenos. Quando cheguei lá o Toninho tinha falado quem eu era e ele me recebeu com o maior carinho, parecia que me conhecia há muito tempo. “Estou muito feliz, emocionado, o Toninho me falou quem você é, jogou num grande time do Brasil e estou mais orgulhoso ainda por você ter aceitado esse tipo de trabalho, sendo uma pessoa importante no Brasil”, disse. E o Toninho traduzindo.

T´SHIRT 

 – Fiquei nove meses e meio naquele lugar. Não pensava em nada a não ser que tinha conseguido um emprego que me daria sustento e tranquilidade. Eu não pensava em voltar ao Brasil, queria estudar inglês me legalizar e fazer a minha vida. Fiquei um ano e meio como t-shirt, depois passei para ajudante de cozinha. O lugar é maravilhoso, o “Píer 39”, quando for lá vou te levar pra conhecer. É um dos pontos turísticos de San Francisco, como a Golden Gates, a Abóboda e esse lugar. Fica perto da minha casa, uns vinte minutos andando. Um dia, numa festa no consulado, conheci o dono de uma pizzaria que era um brasileiro, que fez o convite “por que você não vai trabalhar na pizzaria, lá você pode tirar 120, 130 (dólares) por noite”. Pensei comigo “esse cara ta chutando, ganhar 120 entregando pizza, que que é isso ?”, mas resolvi ir lá conhecer o pessoal, ver como era a coisa. Eu ganhava antes quase seis dólares por hora, hoje chega a 10,45 é o melhor salário dos Estados Unidos, em San Francisco, a cidade é muito cara.

DEPOIS ENTREGOU PIZZA

 – Voltei lá numa segunda-feira e ele disse que estava procurando uma coisa para eu fazer. “Tem que pensar”, eu disse. Ele sugeriu que eu ficasse como maitre, recebendo os fregueses, mas não dava por causa do inglês, eu disse a ele, que me perguntou se eu dirigia, se tinha carro. Fiquei um mês esperando, treinando para conhecer a cidade. Ele não empregava ningué, sem experiência, não gostava que atrasassem as pizzas. Tinha que fazer as entregas de carro e precisava saber os caminhos, conhecer bem todos os atalhos, tinha prazo para o “delivery” (entrega). Tinha 40 minutos para entregar três, quatro, cinco pedidos e para isso precisava conhecer bem a cidade. Quando eu comecei não trabalhava sexta, sábado e domingo porque era movimento demais muita entrega e eu não estava preparado para aquele movimento todo. Comecei a trabalhar de segunda a quinta, até ganhar experiência. Quando eu conhecia todas as ruas, buraquinhos, postes, vielas, ele me deu um novo horário, de segunda a sábado, quando eu ia até três horas da manhã. Então falei com ele que não dava esse horário, que só podia trabalhar até meia-noite. Ele (Altamir, goiano) disse que não tinha problema. Ficamos amigos, conheci a família, trabalhei lá 22 anos, só saí para aposentar.

POR QUE NÃO ABRIU UMA ESCOLINHA ?

 – Tive uma, depois de trabalhar algum tempo com o pessoal de lá. A estrutura não era boa e pensei, por que não ter o meu negócio, e resolvi montar um time, atendendo aos pedidos de alguns amigos americanos, que conseguiram espaço. Mas os garotos, eram mais de cinqüenta, só queriam trabalhar comigo. Diziam que eu tinha jogado com Pelé, Jairzinho, eu dizia que havia jogado contra eles, mas não adiantava. Ganhava até bem mas era muito desgastante. Fiquei três anos nesse negócio depois parei, não dava, era muito cansativo. Eles queriam brincar se divertir, nem aí com o futebol, era só farra. Até hoje recebo convites para trabalhar com garotos, mas não dá, parei.

O SOCCER NÃO DESLANCHA 

 – O americano é doente pelo beisebol e futebol americano, é a mesma coisa que trazer o beisebol pra cá, como tem em São Paulo, não pega. Vê se brasileiro vai ver futebol americano, não vai. Uma meia dúzia. Basta ver a final do campeonato de futebol, uma coisa de louco. Vendem tudo com muitos meses de antecedência, é a maior festa de qualquer esporte, no mundo, a preço da publicidade na televisão é um absurdo, coisa de louco. Eu gostaria, mas nunca fui. Então, eles gostam disso, fazer festa, comer, beber, se divertir. É uma coisa enraizada na cultura deles, que não será mudada nunca. Faz parte. Quando eu fui aos Estados Unidos com o Flamengo, em 1967, já via as meninas jogando bola, o soccer, como eles chamam, os meninos não, é fácil explicar. Quando os rapazes saem das faculdades, já praticando, na hora de decidir que caminho tomar eles já estão encaminhados no esporte, beisebol ou futebol americano, ou o basquete, que dão dinheiro. Não vão escolher o soccer (futebol) que ganha mixaria. Pagam bem ao Thiery Henry, Beckham, quando estava lá, o Juninho deve estar ganhando bem, mas ao menino que está saindo da universidade pagam mixaria. Então, na hora de escolher, escolhem o esporte da terra deles. Não tem beisebol nem futebol americano para as meninas, só basquete. As que jogam soccer ganham bem, mas são poucas, só aquelas da seleção, que tem uma boa estrutura.

AMERICAN WAY OF LIFE

 – Me adaptei tanto, tanto, que parece que nasci lá. Adoro aquele jeito de vida, incrível. Adoro aquele respeito pelos teus direitos, à lei, uma coisa incrível. Há quem não dê valor a isso, eu dou e muito. Ninguém vai na sua casa sem te dar um telefonema, ninguém bate na sua porta, sem avisar antes. O mesmo acontece quando quero ir visitar algum amigo, bater papo, beber um vinho, um uísque. É aquele negócio, nem sempre você está de bom humor, está disponível para conversar, isso eles respeitam muito e acho sensacional. E quando você vai, leva sempre sua bebidinha favorita. O cara não é obrigado a saber o que você quer, às vezes não tem, então, já levando a sua não tem problema. É um detalhezinho, mas eu gosto.

CIDADÃO AMERICANO

Depois do Green Card você espera cinco anos para conseguir a cidadania, mas eu casei com uma americana e assim só precisei de três anos para me tornar cidadão americano, ter os direitos e deveres, isso em 1995. Votei no Clinton, duas vezes, e no Barak. “Não votou no Bush”, pergunto. Fio ri e, sério, como poucas vezes é visto, rechaça. “Sou democraty”. Pobre normalmente é “democraty”, rico é que é republicano. Eles não gostam do hispano, não gostam, são conservadores, radicais demais. Desde no início, quando o Obama queria fazer uma reforma na imigração eles nunca apoiaram, estão apoiando agora, quando o Obama jogou a petece nas mãos deles, convocando em discurso, democratas e republicanos, então os caras ficaram sem saída, perante a população.

SEM ARREPENDIMENTOS

 – Pra quem anda direito, olha, foi a melhor … foi uma das melhores coisas que eu fiz na minha vida  ir para os Estados Unidos, ta louco. A tranquilidade que eu tenho lá, nossa, você não tem ideia. Não digo que não voltaria porque a gente não sabe o que pode acontecer, mas minha filha diz ‘se quiser voltar vai sozinho, porque eu não vou’. Ela chegou com 12 anos, é cidadã americana e está totalmente integrada à vida por lá. San Francisco é uma cidade maravilhosa, tranquila, está mais violenta hoje, mas quando eu cheguei não saía uma nota nos jornais sobre violência, coisas assim. As coisas mudaram um pouco, um ou outro crime, mas a polícia está sempre presente, é só pegar o telefone e ligar 190 que aparece um monte, não sei de onde esses caras saem. É tudo a mesma coisa, com ambulância, bombeiros, policiais, basta ligar que eles aparecem na hora, incrível. Sabe o que acontece, é uma cidade grande mas não tem trânsito engarrafado. Quando vem uma ambulância todo mundo para, todo mundo encosta para deixar que eles passem, eles vem com tudo, você se vira, mas sai da frente. É emergência, se não sair logo eles multam. É emergência, uma vida pode estar em jogo, é assim que eles raciocinam. Então, todo mundo abre passagem. 

“FIO MARAVILHA” TE AJUDOU EM ALGUM MOMENTO ?

 – Se eu disser que não estarei mentindo. O Flamengo foi muito bom, mas a música me ajudou bastante porque quem não me conhecia pelo futebol passou a me conhecer pela música. Principalmente as mulheres, outras pessoas que não conheciam futebol, passaram a me conhecer pela música. Funciona, me ajudou muito, não posso mentir. E continua ajudando. Toca bastante nas festas, conjuntos, até mesmo o pessoal mais novo, quando eu chego começa a tocar. Às vezes o pessoal reclama “nós tocamos sua música e você não aparece”, tem muito isso. Um dia me chamaram para uma reunião, me deram um prêmio e tinha um brasileiro que imitava o Waldir Amaral, narrou um gol meu e entrou a música, muito legal. Fiquei emocionado.

A SELEÇÃO PERDEU EM 1950

 – E vamos perder de novo, eu não estou levando fé. Não sei, vou torcer, mas a coisa ta muito fraquinha, não tem um jogador de peso, não tem uma referência, não dá confiança pra gente que passou a vida inteira nesse troço, sei não. As feras que a gente tinha poderiam estar aí até hoje, como Ronaldinho, Robinho, porque os caras não respeitam mais aquela coisa de camisa, não acontece mais, ninguém ta mais respeitando o futebol brasileiro, os times brasileiros, viu aquele time, o Tijuana, jogou la dentro do campo do Atlético Mineiro como se estivesse na casa deles. Os times mexicanos não respeitam mais a gente. Não respeitam mais nossa camisa, já foi o tempo.

FÃ DE MESSI

 – Eu não gosto de discutir futebol, falo apenas com dois amigos brasileiros, que moram em San Francisco, mesmo assim sem discussão, ponderando, cada um na sua. O Dudu (irmão mais novo, que mora em Tampa, Florida) vive dizendo que sou saudosista, mas tem que ser. Nós que vivemos naquela época, eu tive a honra de jogar duas vezes contra o Negão (Pelé), Rivelino, Furacão (Jairzinho),  Frango (assim que ele chama o Zico). Dudu é um cabeça de bagre, até hoje ele não admite que o Messi é o melhor jogador do mundo, digo pra ele me apresentar um melhor que ele, quero ver de onde ele vai tirar. Falo do Pelé, Maradona, Messi, Zico, Platini, Zidane, mas dizer que Messi não é o melhor do mundo, disparado, peraí. E olha que sou torcedor do Real Madrid, fico doido quando perde, mas não posso negar que o cara é o melhor do mundo, quem está próximo é o Cristiano Ronaldo, uns metros atrás.

SÃO CRISTÓVÃO 3X2 FLAMENGO DE VIRADA

 – Naquele dia deu tudo certo. Foi em 1975. A gente estava perdendo de 2×0 (na verdade 2×1 – ver súmula do jogo abaixo) no primeiro tempo. No intervalo eu só pensava, vamos tomar uma porrada homérica, mas o Franz (ex-goleiro) tinha arrumado o time direitinho, estava bem no jogo. Era um cara bom, todo mundo gostava de jogar com ele. Tinha o Sena (depois vendido para o Atlético de Madrid), Ivo Sodré, o time ajeitadinho, uma boa união, a turma boa, amigos. No vestiário o Franz chamou a gente e disse que o Flamengo era um time forte, mas no nosso time todo mundo sabia jogar bola. Flamengo é poderoso mas jogar bola tem que querer também. Deu uma mexida e voltamos com tudo. Dei passes para todos os gols e viramos para 3×2. No outro dia os caras queriam me bater na rua. No outro jogo, na Ilha do Governador, passei naquele cercadinho me jogaram tudo, cuspiram, xingaram, eu pensando comigo, os caras me aplaudiram agora estão de apedrejando. Chorei muito depois do primeiro jogo, fiquei triste porque sou flamenguista. Mas não teve aquilo de querer mostrar alguma coisa a alguém, até porque sempre torci pelo Flamengo, desde criança.

SÚMULA DO JOGO

SÃO CRISTOVÃO 3X2 FLAMENGO (6ª rodada)
Local: Maracanã;
Data: 29-03-75 (quarta-feira)
Juiz: José Marçal Filho;
Renda: Cr$ 196 564,50;
Público: 21 619 pagantes
1º Tempo: Fla 2×1 – Zico aos 3′ e 39 e Sena, aos 44′
Final: São Cristovão 3×2, gols de Sena, aos 36′ e Santos, aos 42′
Flamengo: Renato, Júnior, Jaime, Luís Carlos e Rodrigues Neto, Liminha e Geraldo, Edson, Paulinho, Zico e Doval.
Técnico: Joubert
São Cristóvão: Sergio, Julio (Pedrinho), Nelio, Nenem e Peixinho; Badu, Ivo Sodré (Madeira) e Almir; Santos, Fio e Sena
Técnico: Franz

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