DUNGA E A IMPRENSA

foto: site euronews.net

Conheci Dunga em 1984, no torneio pré-olímpico realizado em Guaiaquil, no Equador, onde ficamos uns vinte dias, mais ou menos. Depois nos reencontramos em Los Angeles, na Olimpíada. O Brasil perdeu para a França e ficou com a medalha de prata. Algumas entrevistas depois e os encontros ficaram mais escassos, até sua convocação como técnico da seleção brasileira. Sempre mantivemos um contato de respeito mútuo, e a convocação final para a copa que se disputa na África do Sul mereceu de mim o mesmo tratamento que dou a esse assunto desde muito tempo. Não discuto convocação, preferências, erros e acertos de treinador.

Antes de continuar, devo dizer que não suporto alguns “ismo”. Uns por absoluta falta de motivo, outros por razões pessoais mesmo. Não gosto e pronto. Portanto, não pense encontrar neste espaço, nacionalismo, bairrismo, racismo, corporativismo  etc.

Voltando ao Dunga, discordo, mas respeito, sua lista de jogadores. É ele quem convoca, escala, se responsabiliza pelo sucesso ou fracasso do time. Assume e acabou.

Eu levaria o Neymar e o Ganso, como quase todo mundo que acompanha futebol. Sem essa de que “temos 190 milhões de técnicos”. Isso é de uma falta de imaginação sem limites e ainda encontra quem repita essa asnice. Como dizia Otto Gloria, se ganhar é bestial, se perder é uma besta. Não cabe ao treinador escolher, mas será uma dessas hipóteses, querendo ou não.

Não pretendo analisar o time, que vai bem até aqui. Escrevo antes do jogo contra Portugal. Quero falar da atitude do treinador brasileiro ao impedir que uma emissora apadrinhada do presidente da CBF tivesse acesso exclusivo aos jogadores para realizar matérias no período de concentração. Bateu de frente, pôs seu cargo em jogo, mas foi coerente. Aliás, uma característica desse rapaz. “Ou tem pra todos ou não tem pra ninguém”. Disse e manteve sua posição.

Parte da imprensa brasileira deve isso ao Dunga. Se nós, jornalistas, fazemos cobranças do lado de lá, também precisamos ver se a “convocação” do lado de cá foi acertada. Essa coisa do sujeito usar um microfone, câmera, jornal ou internet para “bater” da forma que quiser, sem dar espaço para resposta, precisa ser revista. O que vemos, em determinados setores da imprensa é uma campanha covarde, sistemática, para impor preferências ou agradar aos patrões.

Não tenho procuração do Dunga, nem pretendo defendê-lo. O que me preocupa é o caminho perigoso que minha profissão tomou, depois que terminou, com Armando Nogueira, uma geração de gênios da imprensa. Que falta fazem João Saldanha, Oldemário Touguinhó, Sandro Moreira, Valdir Amaral, Jorge Curi, Nelson Rodrigues, Geraldo Romualdo da Silva, Ruy Porto e tantos outros que tive o privilégio de conviver e aprender alguma coisa.

Não dá para falar do atual momento sem pensar nessa gente. Eram respeitados por sua qualidade profissional. Discordavam do treinador e com eles discutiam. Não havia privilégios, todos eram tratados da mesma forma.

Com respeito e admiração dos que estavam chegando e dos companheiros. Porque conheciam o assunto. Saldanha foi técnico do Botafogo e montou a base da seleção tricampeã do mundo.

Meu prezado Dunga. De minha parte um agradecimento especial e espero que  mantenha sua postura coerente. Você sabe que os canhões vão se virar para o seu lado e qualquer escorregão vão puxar o seu tapete. Não espere ética do outro lado, que não haverá.  Não banque o Dom Quixote que não vale a pena. O que tiver escrito assim será.  Siga sua vida, com qualquer resultado, e continue dormindo em paz com você mesmo.

3 thoughts on “DUNGA E A IMPRENSA

  1. Formidável leitura da situação. Parte da bagunça na Suiça, na Copa anterior foi da televisão, GLOBO, que levava jogadores até altas horas para entrevistas, exclusivas, etc.
    Levaram vários profissionais da Tv para ‘ cobrir ” a Copa. Ancora do JN tem de ter matéria,não entende nada de futebol tem de inventar. Os caras do humor fazendo piada, com um clima tenso que é a copa. Programação com vários profissionais ávidos por mandar matérias para o Brasil. Quando Dunga fechou a seleção e acabou com a bagunça, estes caras passaram a persegui-lo. Agora, se ele perder a copa, digo o Brasil, a porrada vai comer. Porque estes caras não vão ficar satisfeitos. O time não é lá estas coisas, mas como não deu mole para os poderosos, as coisas vão se complicar.

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