COMO ELES ROUBARAM O JOGO

"vocês só sabem pedir, pedir, pedir", foto EFE, site EMOL.com

O secretário geral da Fifa Jerôme Valcke achou-se no direito de subir o tom de voz nas conversas que teve com as autoridades brasileiras e tirou onda – ô terminho bem aplicado – como quem diz “não quer fazer a copa, dá para outro”. Veio na nossa casa dizer isso, nas entrelinhas e foi além, falou textualmente: “vocês fazem exigências demais à entidade que comanda o futebol”, referindo-se à Fifa.

E o que fizeram nossas autoridades quando essa turma que dirige a Fifa chegou aqui com um caderno de encargos que incluía liberação de bebida alcoólica, isenção de todos os impostos, que nós pobres mortais pagamos sem reclamar, e mil e uma exigências ? Absolutamente nada. Nem a nossa soberania foi respeitada, quiseram pisar em cima. Faltam machos nesse país, tenho repetido. Nossos dirigentes, além de incompetentes são frouxos.

“Só porque vocês ganharam cinco copas do mundo se acham no direito de pedir, pedir, pedir”, disse o Mr. Futebol – ou pelo menos é o que ele se julga ser – depois de se reunir com o Ministro Aldo Rebelo e o conselheiro do Comitê Organizador Local (COL), Ronaldo Fenômeno, posto no cargo para descascar os abacaxis do sumido Ricardo Teixeira, que está esperando a poeira baixar.

Tivesse a CBF respaldo moral ou fosse presidida por João Saldanha –não sei por que penso sempre nele nesses momentos – esse cara teria sido expulso da sala e levaria um sonoro pontapé no traseiro. Mas estamos em baixa, ocupando o sexto lugar no ranking dos “homens”, não podemos, ele tem razão, fazer muitas exigências. Puseram o rabinho entres as pernas e saíram de fininho.

Quando Jerôme cobra pressa na aprovação da lei – um conjunto de medidas que regulamenta a realização do mundial da Fifa, desde o preço dos ingressos até a proteção de marcas dos patrocinadores, inclusive cervejas, (quer salvar a Budewiser, claro),  está certo, fazendo o seu papel. E, mais uma vez, tem razão.

A lei criou uma série de divergências entre as autoridades brasileiras e a Fifa, entre elas a concessão de meia-entrada para estudantes e idosos e a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que já citei acima. Talvez seja esse o maior entrave pela força política da marca americana de cervejas, a Budeweiser, um dos grandes patrocinadores da copa do mundo.

Jarôme tem suas razões para reclamar, temos que reconhecer isso. A Fifa não veio aqui pedir para fazer copa do mundo. A forma como ele chega, se aboleta numa poltrona e diz o que bem entende é que pega mal.. Guardadas as astronômicas diferenças, o Brasil faz a copa de 1950 e ninguém da Fifa veio aqui fazer cobranças. Pelo menos isso nunca foi publicado.

O que será que mudou tanto, o Brasil, a Fifa ou a incalculável fortuna que rola numa copa do mundo ? Depois de ler o livro do inglês David Yallop “Como eles roubaram o jogo” nunca mais vi futebol da mesma forma. Uma sensação de asco me tortura até hoje. Se quer conhecer como funciona “o jogo” vá correndo a uma boa livraria. Sobre a Fifa, Yallop escreve, na página 222, espero que ele permita transcrever um trecho importante de sua obra.

“Ao ser fundada em Paris, em 1904, a Fifa tratava de futebol e de pouco mais. Seu “ethos” permaneceu na maior parte intacto sub sucessivos presidentes, dois franceses, um belga e três ingleses, até que um brasileiro ocupou o trono em 1974. Dentro de alguns anos, o “ethos” começou a mudar. Uma década depois, havia sido inteiramente transformado. A Fifa não tratava mais de futebol. Tratava de produto, de patrocínio, publicidade e comercialização do produto. Tratava de dinheiro. O jogo ? O jogo havia sido roubado. Como fazem ladrões profissionais de obras de arte, o original fora substituído por uma cópia bem feita. A peça falsificada enganou muita gente. O que nos resta é esperar devotamente que Abraham Lincoln estivesse certo quando expressou suas opiniões sobre “enganar o povo”.


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