AS LIÇÕES DA OLÍMPIADA

Um dia o mundo escureceu, ventou muito forte e caiu uma chuva torrencial, daquelas que aterrorizam quem está por perto. Caíram muitos raios. Um dele sobre a Jamaica outro em Baltimore, nos Estados Unidos. Eles tinham nome: Usain Bolt e Michael Phelps. Estava escrito que ninguém seria mais rápido que os dois. Um na água outro na terra. Primeira lição: ninguém é mais veloz que eles. Foram os heróis da Olimpíada de Londres.

Acho sensato e aceito a tese de que eles vieram de outro planeta. E provável que sim, não se pode duvidar. Os caras parecem mesmo que não pertencem à Terra, como seus rivais. Embora prefira a idéia de que eles desceram das nuvens em forma de raios, pela velocidade como se movimentam e a facilidade com que destroem adversários e recordes. De qualquer forma que tenham vindo, são insuperáveis, só perderão para o tempo. Fizeram dos Jogos de Londres o maior espetáculo da Terra.

Os XXX Jogos Olímpicos, realizados pela Grã Bretanha foram  magníficos sob todos os aspectos, para quem assistiu de casa, em qualquer lugar do mundo. Extremamente organizado, pontual – e não poderia ser diferente, sendo disputado em Londres – e repleto de coadjuvantes de Bolt e Phelpes, os donos da festa, de altíssimo nível, como o time feminino americano de basquete, que conquistou o pentacampeonato (seguido) e o masculino, o Dream Team II, que foi  buscar a medalha e se divertir.

Outro destaque foi a equipe dos Estados Unidos, dando o troco na China, que patrocinou Pequim 2008 e estava disposta a manter a hegemonia dos Jogos Olímpicos da era moderna. Foi a retomada americana como maior potência olímpica do mundo. Os chineses lideraram grande parte dos Jogos mas não conseguiram segurar a arrancada da turma do Norte da America. Foram 46 execuções do “Star Spangled Banner”, comemorando primeiro lugar, contra 38 dos chineses. Total de 104 medalhas contra 87 da China.

O Reino Unido promoveu e fez a festa com 29 pódios de ouro, 17 de prata e 19 de bronze, em terceiro lugar na contagem geral. A Rússia ficou em quarto lugar com 24 medalhas de ouro, 25 de prata e 33 de bronze. Outros países brilharam, diante do que deles se esperava, como a França, que ganhou  11 medalhas de ouro, 11 de prata e 12 de bronze, em sétimo lugar, e a Coréia do Sul que conquistou 13 de ouro, 8 de prata e 7 de bronze. Foi uma competição de altíssimo nível, com as decepções de sempre. Atletas na forma descendente estarão sempre nos Jogos tentando uma despedida digna. O que nem todos conseguem. 

O Brasil ficou em 16º lugar, ganhando 3 medalhas de ouro, 5 de prata e 9 de bronze. Uma no vôlei feminino, comandado por José Roberto Guimarães, um dos profissionais mais competentes, equilibrados e carismáticos de todos os esportes em nosso país. Era um ouro que não se podia descartar. Como no masculino, que não veio por um erro de percurso, um equívoco da história. O trabalho foi feito com profissionalismo, estrutura, organização e planejamento. Perder faz parte desse jogo. Não há que se lamentar, nem chorar. Feliz do país que tem um técnico como Bernardinho, super vitorioso. Ele é de ouro.

Um ouro com o menino das argolas, mais um super-herói anônimo que monta uma academia com um amigo e, empiricamente, torna-se o melhor do mundo, sem um patrocinar. Agora terá dezenas de ofertas de bancos, refrigerantes, cartões de crédito, comerciais com louras estonteantes e todas as mesas redondas que existem ou serão criadas para “desenvolver o esporte no país”. Milhares de academias serão estimuladas e não surgirá outro Arthur Zanetti, até 2016 porque é impossível criar um atleta do seu nível sem estrutura. Nesse caso não cairá nenhum raio outra vez em nosso território.

Sarah Menezes foi outra grata surpresa, ganhando sua medalha de ouro, no judô, o esporte que mais tem conseguido pódio para o Brasil em Olimpíadas. Não foi a Londres como favorita mas deu seu recado e muito bem. Não se pode creditar, também, à organização, como no caso do vôlei, o sucesso da menina. Ao contrário, muitas reclamações foram feitas ao descaso que a Confederação trata dos interesses do esporte, principalmente os atletas de alto rendimento. Nada diferente, nenhuma novidade.

Que lição podemos tirar de Londres ? Nenhuma. Não vai mudar nada. Os atletas, exceção dos medalhistas de ouro e prata – nem pense que os de bronze terão o mesmo tratamento – que ganharão patrocinadores, espaço na mídia, abrirão suas academias com patrocínio fácil e a história se repetira nos próximos quatro anos.

Não adiante querer malhar o Mano Menezes, pedir sua saída, buscar culpados. Só há uma saída. Política de apoio ao esporte nas escolas e universidades. Os americanos mostraram o caminho, sigam os que quiserem ouvir o hino, como eles.

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