As Caras de Quem somos

Somos o que lemos, já disse um dia o poeta. Ou foi o profeta? Pouco importa, eles estavam certos. Porque nos anos 70 o país do futebol prendia e torturava seus filhos e não teve um só ídolo de chuteiras a levantar a voz e tirar seu torcedor socialista do pau-de-arara. Saíram às ruas os estudantes, entraram em greve os metalúrgicos, os ferroviários, todos os operários, mas nenhum Pelé ocupou o show do intervalo para denunciar a tortura. O sumiço do Herzog. Em meio a esta pavorosa omissão, Democracia Corintiana, Afonsinho e Movimento Passe Livre foram focos isolados de resistência prontamente abafados pelos cartolas.

Nas concentrações dos clubes de futebol os jogadores não liam Movimento, Pasquim ou Opinião. Eles liam Contigo, Jornal dos Sports, Tio Patinhas e Manchete. Não a de variedades, política e sociedade do Arnaldo Bloch. Mas a esportiva que só continha futebol. Tão violento foi o descaso da minha classe que o ditador da vez., Emilio Garrastazu Médici, teve a petulância de trocar o comando da seleção porque João Saldanha  era comunista. Em seu lugar imporia a CBF um treinador que levasse Dadá Maravilha ao México. Era um bom atacante, cabeceava bem, tinha passadas largas e um certo domínio de bola, mas  na época era o melhor ópio do povo que o futebol concebia nas tardes de domingo. O que distraia as massas enquanto as bombas explodiam no Riocentro.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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