A UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Com uma história que remonta ao século seguinte ao da fundação do próprio Estado Português (o reconhecimento papal de Portugal data de 1179 e a confirmação pontifícia da Universidade de 1290), a Universidade de Coimbra constitui uma referência incontornável da cultura portuguesa e um sinônimo de inovação, tanto no passado como na atualidade.

Não é apenas no exterior do país que o imaginário associado à cidade de Coimbra se centra na Universidade com o mesmo nome. Os próprios portugueses referem-se frequentemente a Coimbra como a Cidade dos Estudantes.


Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, a idéia da instituição Universidade de Coimbra encontra-se intimamente ligada à Alta Universitária, um conjunto arquitetônico heterogêneo onde se destacam as construções do Estado Novo e, sobretudo, o Pátio e Paço das Escolas, denominados pela célebre Torre da Universidade (A Cabra).

Foi o Paço das Escolas que aglutinou, em 1544, todas as Faculdades da Universidade de Coimbra, após a instalação definitiva da Universidade nesta cidade, em 1537, e um verdadeiro percurso itinerante de quase três séculos entre Lisboa e a urbe do Mondego.

A Alta Universitária acolhe apenas uma parte do todo que constitui a atual Universidade de Coimbra, que ocupa várias áreas da cidade, com as suas oito Faculdades, dezenas de centros de investigação, um Instituto de Investigação Interdisciplinar, um estádio universitário, vários museus, o Teatro Acadêmico de Gil Vicente, o Jardim Botânico, estrutura de apoio aos estudantes e a maior academia do país.

Em 1992 foram inciadas as obras conducentes à instalação do Polo II da Universidade, no Pinhal de Marrocos, ocupando uma área equivalente à do próprio Polo I, centrado na Alta Universitária. Os departamentos de Engenharia Informática, Eletrotécnica e de Computadores, Mecânica, Química e Civil (Faculdade de Ciências e Tecnologia) começaram a funcionar em 2001. Ainda foram instaladas, no Polo II, as Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, Ciência do Desporto e Educação Física.

O terceiro pólo, das Ciências da Saúde, para onde se transferiram as Faculdades de Medicina e de Farmácia, bem como vários centros e unidades de investigação, começou a ser construído em 2001. Constitui um conjunto com os Hospitais de Universidade de Coimbra, o Instituto Português de Oncologia, o Instituto Nacional de Medicina Legal e o Hospital Pediátrico de Coimbra, o maior pólo de prestação de cuidados de saúde da Europa.


A Universidade ocupa, desde outubro de 1537, o edifício que foi, durante mais de quatro séculos, o Paço Real da Alcáçova, a primeira entre as residências régias portuguesas, habitada com regularidade, entre os séculos XII e XV, pelos sucessivos monarcas. À exceção única de D. Pedro I, nasceriam aqui todos os Reis de Portugal da Casa de Borgonha.

Quase destruída, no seu flanco sul, durante a conquista definitiva da cidade, em 1064, pelo Imperador Fernando Magno, seria restaurada, ao redor de 1080, pelo alvazir Sesnando, primeiro governador cristão, responsável também pela primeiras edificações em pedra, pré-românicas, que viriam a constituir o embrião do atual palácio, uma capela, dedicada a S. Miguel e uma aula adjacente, encostadas ao troço poente da muralha, junto ao qual edificaria também um albacar , prolongando assim o original recinto militar.

Nesse paço se instalaria o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, a partir de 1130, nele vivendo igualmente os seus imediatos sucessores. Por volta de 1130/40, porém, uma grandiosa reforma se empreende, já no gosto gótico, por iniciativa de D. Afonso IV e sob a direção do arquiteto régio Domingos Domingues.

Entre as atrações turísticas mais importantes, destacam-se a Porta Férrea (1633, por Isidro Manuel, projeto de Antonio Tavares); Via Latina (segunda metade do século XVIII); Sala Grande dos Actos (1544, edificada por Marcos Pires, projeto de Boitaca, pintada por Jacinto Pereira da Costa), Sala do Exame Privado (sucessora da antiga câmara do Rei – 13 de outubro de 1537 – pintura de José Ferreira de Araújo).

Torre. Edificada entre 1728 e 1733, em substituição a uma outra, construída por João de Ruão, em 1561, riscada pelo arquiteto romano Antonio Canevari, trabalhando em Portugal a serviço de D. João V, constituindo-se na matriarca das torres universitárias européias. Elegante e raro exemplar de torre barroca de caráter civil, de sobriedade clássica, ostenta sobre as ventanas um elegante frontão quádruplo, alojando, além dos relógios, os sinos que regulam o funcionamento ritual da Universidade.


Capela de S. Miguel. Iniciada a sua construção pelo Infante D. Pedro, no segundo quarto do século VX, substituiria o primitivo templo pré-românico, sendo-lhe acrescentada nova cabeceira, que quase duplicaria o seu tamanho, a partir de 1507, segundo projeto de Boitaca. Em seu interior destaque para o suntuoso revestimento azulejar, o magnífico retábulo-mor maneirista, de Bernardo Coelho, com pinturas de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão, e o órgão barroco, decorado por Gabriel Ferreira. Não pode ser fotografada.

Biblioteca Joanina. Edificada entre o antigo cárcere real, no exterior do original perímetro muçulmano, a partir de 1717 e concluída em 1728, a sua construção ditaria a ampliação do terreiro que, desde então, adquiriria a configuração atual. Seu interior subdivide-se em três salas comunicantes, de impressionante efeito, no conjunto formado pelo revestimento das estantes, providas de elegantes varandins e decoradas com motivos chineses em ouro sobre fundo sucessivamente verde, vermelho e negro.

Os tetos de pintura ilusionista, foram feitos por Antonio Simões Ribeiro e Vicente Nunes e os ricos pavimentos em calcário branco cinza e as magníficas mesas ou bufetes, rematando a perspectiva interna uma opulenta composição alegórica, envolvendo o retrato régio, de autoria do pintor saboiano Domenico Duprat. O ouro e a madeira utilizados no seu interior foram levados do Brasil. Proibido fotografar, conseguimos licença do senhor Jorge, responsável pelas visitas guiadas e fizemos essa magnífica imagem.


Mais teríamos a mostrar, como o Cárcere Academico (1593); Colégio de S. Pedro (1525); Jardim Botânico (1772); Museu Acadêmico de Coimbra (1951); Museu de Física; Museu de História Natural; Museu Antropológico; Museu Botânico; Museu Mineralógico; Museu Zoológico; Museu do Instituto de Anatomia Patológica; Teatro Acadêmico de Gil Vicente e Museu do Observatório Astronômico.

Entre os mais de 20.300 alunos da Universidade de Coimbra, encontramos o jovem Leonardo Vieira, português, filho do casal de brasileiros Sergio Vieira e Rosemeire Vieira, no seu segundo ano de Ciências do Desporto, que fala com indisfarçável orgulho de freqüentar uma das mais importantes Universidades do mundo.

– Em primeiro lugar desperta na gente um orgulho muito grande em poder estudar em Coimbra, a melhor Faculdade do país e uma das mais famosas no mundo. Estar entre mais de vinte mil alunos não é uma conquista fácil. Meus pais, avós, toda a família se orgulha de ter um representante em Coimbra e comigo não seria diferente. Meus parentes no Brasil citam sempre essa conquista como um importante passo na minha vida futura. É assim.


Pelo que se imagina de longe, não parece fácil ser um entre tantos escolhidos. E não é. São muitos anos de estudo, dedicação total, para estar nesta relação de privilegiados.

– É um longo caminho. Muito difícil, mas que acaba recompensando por esse momento único na vida de cada um daqueles alunos. São doze anos de escolaridade até entrarmos em Coimbra. Após o secundário a gente faz o exame nacional e da média entre o secundário e os exames a gente se habilita a seguir os estudos universitários. É como uma atleta que disputa uma Olimpíada, o apogeu.

Foi como atleta que Leonardo, torcedor do Benfica, resolveu entrar para a Faculdade de Ciências do Desporto que dura três anos para a licenciatura, após o tratado de Bolonha. Antes eram quatro anos e essa mudança gerou grande polêmica.

– Desde criança sempre respirei desporto. Pratiquei natação, basquete e atletismo, quando fui vice-campeão nacional de triatlo técnico, que reúne lançamento de peso, salto em distância e 80 metros, na categoria 14 a 16 anos.

Entre os alunos da Universidade de Coimbra está a campeoníssima Telma Monteiro, do Benfica, segunda colocada no ranking mundial de judô, cursando o primeiro ano de Ciências do Desporto, e o consagrado técnico José Mourinho, hoje no Real Madrid, formado na Faculdade de Motricidade Humana.

8 thoughts on “A UNIVERSIDADE DE COIMBRA

  1. Olá,

    Nasci no Brasil, tenho pais portugueses e vivo em Portugal. Conheço bem a cidade de Coimbra e queria deixar aqui uma dica gastronômica (ou gastronómica em pt-pt) para quem aprecia a culinária portuguesa.
    Quem visitar Coimbra não deve deixar de ir ao restaurante Nacional. Fica em um sobrado no centro da cidade. Não tenho o endereço mas é bastante conhecido por lá. Vale a pena pela qualidade, quantidade e preço.
    Passei 6 meses em Coimbra a trabalho e pelo menos 2 ou 3 vezes por semana ia jantar ou almoçar nesse restaurante.

  2. Caro Iata, em Coimbra existe uma ruela que se chama Beco das Canivetas, na região central da simpática cidade. Saberias me dizer, por acaso, qual o significado de Canivetas, visto que, no Brasil, nossa vivência maior é com canivetes. Desde agradecido. Um cordial abraço.

  3. Caro Ari Quadros, o Beco das Canivetas, em Coimbra, tem sido alvo de muitas reclamações dos moradores pelo abandono em que se encontra. O local virou centro
    de desocupados, drogados e bandidos, segundo materias no jornal local. Canivetas é o mesmo que canivete, de origem galego, segundo meus informantes em Coimbra.

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