A Profecia

Eduardo Baptista, técnico do Fluminense, passou a semana lendo o Alquimista e assistindo palestras motivacionais com Waldez Ludwing e Daniel Bizon. Domingo, terá uma missão quase impossível no vestiário do Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis: motivar o imotivável. Sem Fred, Gustavo Scarpa, a revelação tricolor, vai escutar do treinador que as lentes do país estarão sobre ele 90 minutos. Que ele precisa “fechar com chave de ouro seu grande  ano”. Mas seja lá o que jogue, ou que deixe de jogar, em 2016 o camisa 11 tricolor vai permanecer na primeira divisão  e enfrentar o Palmeiras, Santos, Internacional e Cruzeiro. Vai enfatizar  que ali todos são profissionais e blá, blá, blá… Nenhuma preleção, no entanto, será capaz de alterar a temperatura no sangue que caminha, e não corre, nas veias de Diego Cavalieri. Embora quanto mais frio e melhor concorra para sua posição, não será suficiente para elevar a temperatura que o Vasco precisa no domingo para dar uma injetada a mais na circulação  do time tricolor.

Já no outro vestiário, Hudson Coutinho, técnico do Figueirense, não precisará ler livro algum ou assistir palestras. Vai levar apenas um calendário de 2016 e fotos dos pacotes turísticos e esportivos com as cidades, estádios e mídias esportivas que poderão atuar. São Paulo ou Bragança Paulista? Porto Alegre ou Mogi Mirim? Maracanã ou Moacyrzão? SporTV ou Redevida? Também levará um vinho do Porto e uma garrafa de Red Wine. Pela renovação contratual e a divisão jogada, irão optar se degustarão clássicos ou mastigarão as sobras programadas para as noites de terça e sexta feiras.  Já tive grandes treinadores, estudiosos como Claudio Coutinho e Carlos Alberto Parreira, extraordinários como Pinheiro, Zagalo e Evaristo Macedo. Nenhum deles foi capaz de motivar o imotivável. Mas e a diferença técnica a favor do Fluminense, não pesaria?

O futebol, ao contrário do Tenis, do Basquete e do Voleibol, onde são raras as zebras, nos reserva seguidas surpresas. Um time pode não ser campeão brasileiro pelo conjunto da obra, mas será capaz, fechadinho e no contra atraque, em 90 minutos, de alcançar e perpetuar uma zebra Anapolina (Serrano 1×0 Flamengo). Porque quando a bola sair pela lateral no domingo, um jogador tricolor a buscará andando. O outro, bicolor, sairá voando atrás dela. Um vai disputar um lance como um lanche, o outro vai dividi-lo como um prato de comida. Tal atmosfera de luta de um lado e cumprimento de tabela e respeito profissional de outro, vai envolvendo pelo burburinho todo o estádio. Contagiando torcedores, gandulas e até a arbitragem. O clima alto, já carregando imagens de justiça e injustiça, clubes ricos e pobres, atingirá  cabines de rádio e televisão e irá  envolver e emocionar um país habitado por sentimentos latinos. E quando uma bola for lançada para o ataque figueirense, uma nuvem embaçará os olhos do bandeirinha – e ele não enxergará o impedimento. Um atacante da casa de Robin Hood, então, tropeçará nas pernas vascaínas e cairá dentro da área.  Na certeza de quem cairá para o Z4 estará longe dali, que sairá de campo em paz, não ameaçado, o árbitro, a mãe insultada do filho que está em casa, eu, você e quem mais não for vascaíno, por um sentimento de justiça, numa fração de segundos e sobrevivência, apontará a marca do cal. Penalty! Seja lá o rumo que tomará suas novas caravelas, ou barcas, não mais sob o comando de Cabral, mas do Jorginho, certamente não serão calmarias que irão pairar sobre este novo desembarque português no Aeroporto Santos Dumont de nossa história.

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