A DECEPÇÃO DO ANO

algum tempo era difícil estar na pele dos jurados que escolhiam a revelação do campeonato brasileiro de futebol. Pelo menos uma dúzia de atletas se destacava dentro da competição e outros dez despontavam como promessas para o próximo. Este ano, após chegarem a um consenso de que apenas Malcom, do Corinthians, Luan, do Palmeiras, Rithele, do Sport, Douglas Santos, do Galo e Lucas Lima, do Santos, poderiam ser citados ao prêmio, a CBF, olhando para o próprio espelho da sala da presidência que se transformou em cela de mordomia máxima, resolveu trocar a premiação: ela será entregue a maior decepção do ano. E o que não faltam são candidatos: Ronaldinho Gaúcho e Gérson, do Fluminense, Marcelo Cirino e Paulinho, do Flamengo,  Ganso e Luis Fabiano, do São Paulo, entre tantos, largam na frente.

Torcedores, consultados por todo o país, aprovaram a substituição já que, segundo a maioria, ele, Campeonato Brasileiro de Futebol de 2015, foi ainda mais traumático que os 7×1 impostos pela Alemanha durante a última Copa do Mundo. Pela simples razão que o trauma não ocorreu em 90 minutos, mas em 76 longas e penosas rodadas. Em cada uma delas o torcedor foi a campo, ligou sua televisão e rezou em busca de um novo Romário para ser o nosso vingador. E o que assistiu foi Leandro Damião perder gols debaixo do poste, dominar a bola na canela e a posição de titular no Cruzeiro. Ao suplicar por um artilheiro, viu Fred se destacar no departamento médico, com uma média de 36 semanas internado contra apenas 30 atuando. Mal. E o artilheiro da competição, Ricardo Oliveira, acabou sendo a prova definitiva a confirmar o tenebroso momento vivido dentro da grande área: já rodado, retornou ao país dispensado pelo Al-Jazira, aos 35 anos, para completar a aposentadoria. Mas perante tamanha falta de categoria dos seus concorrentes e  dos limitados zagueiros Guns que o marcavam, fez a festa. E ainda foi convocado para a seleção brasileira. Não a de Master com a qual contava. Mas a de verdade de mentirinha.

Razões não faltam para explicar o sumiço dos nossos craques: a Taça São Paulo de Futebol Junior, antes uma fábrica de novos valores, deixou de ser uma festa para os torcedores e amantes do futebol para se tornar um reduto de olheiros e um congresso de empresários e agentes FIFA. Após se destacarem por lá, não voltam mais para o seus clubes, ganham de presente um precoce passaporte e vão seguir viagem para estragar sua formação com a rigidez dos sistemas táticos europeus e asiáticos. E os nossos clubes continuam a formar jogadores para darem um belo suco lá fora e receberem de volta o bagaço da laranja. Outro detalhe fica por conta do desaparecimento dos campinhos de pelada. Outrora formadores de virtuoses da bola, com a instalação dos conjuntos habitacionais do Projeto  Minha Casa Minha Vida, se tornaram previsíveis da bola por iniciarem atuando calçados em pisos regulares. E, finalmente, o descaso dos cartolas com o futebol do interior do estado. Só de Três Rios o futebol brasileiro recebeu Ferreira, Vinícius, Leonardo, Denílson e Herivelton, imagine todo o estado sem receber os Garrinchas que surgiam de Pau Grande? E, mesmo assim, o Presidente da FERJ, Rubens Lopes, continua a subestimar tal potencial e privilegiar os grandes clubes que vão buscar novos talentos no….Al-Jazira. Enfim, a maior premiação do nosso futebol teria que ser mesmo o troféu decepção com nossos irrecuperáveis cartolas. Que não entram em campo, mas são capazes através da corrupção, descaso e incompetência por fim a um reinado tão bonito conquistado por aqueles meninos carentes, revelados a cada edição e que não vão subir ao palco este ano por estarem atuando  longe dos nossos olhos e das nossas esperanças.

 

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