Este cara sou eu

Os cabelos, o bigode, as espinhas e os meniscos se foram. O olhar cansado, após 90 minutos defendendo uma nação, tinha na foto uma explicação: o Flamengo vencera o Vasco por 3×1 e conquistara, após correr os 90 minutos, pela avaliação do Jornal dos Sports, a melhor nota da minha carreira: 9,5. Portanto, acreditem porque já se passaram 41 anos: este cara sou eu.

Apenas Arthur Antunes Coimbra levara uma nota maior naquela tarde, um 10, porque já era o Zico. E marcara dois gols, um deles inesquecível na cobrança de uma falta.  Tinha motivação de sobra para jogar o que joguei: o Maracanã recebia no dia 4 de Abril de 1976, 174.770 pessoas. O quinto maior público da sua história. Três vezes a população da minha cidade, Três Rios. Pelo menos, ficara sabendo na véspera, que três kombis e dois ônibus da Viação Salutaris conduziriam para lá um pouco da minha gente. Meus pais, irmãos, primos e amigos acabaram também por lá acotovelados. Não poderia decepcioná-los. Não duvidem de quem não dormiu de tão ansioso a noite anterior ao clássico: este cara da foto sou eu.

Fui para o Flamengo duvidando de mim mesmo. Como tricolor de carteirinha, escudo pintado no caderno do Colégio Entre-Rios e lambrecado de pó de arroz toda vez que ia aos jogos, passei sete anos nas Laranjeiras torcendo e jogando pelo Fluminense. Ou jogando e torcendo, a recompensa era a mesma. De repente, a troca. Eu para a Gávea, Doval para as Laranjeiras. Da noite para o dia, atleta profissional de futebol. Fim do amor a camisa. Início de fato da profissão. Daí, corri feito um louco e devo ter jogado como gente grande. E afirmo, porque tinha que provar para mim mesmo que podia vencer com outra camisa, mesmo que fosse “a inimiga”: este cara sou eu.

Dia 17 de Outubro de 2017, terça-feira, a partir das 19h00, na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, 35, Centro, Rio de Janeiro, estarei  autografando meu novo livro: “Memórias de um ponta à esquerda!”.  Para provar, levarei comigo os olhos do Bruno, os cabelos da Roberta, o rosto do Guilherme e a coração rubro-negro da Priscila Ou colocarei uma peruca. Pouco importa: estarei por lá esperando vocês. Porque este ponta esquerda aí da foto, um tricolor que se orgulha de ter defendido uma nação, jura para vocês: esse cara sou eu.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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