CAMPO MOLHADO

Vejo, trabalho e consumo futebol desde menino, quando, enfeitiçado pelo futebol de Dida, então tricampeão com o Flamengo, optei por acompanhar esse esporte tão apaixonante quanto complexo. Três anos depois a seleção ganhou o primeiro título mundial e a história começou a ser escrita de outra forma. Viramos o país do futebol e – como Deus é brasileiro, diziam – pôs Garrincha e Pelé no mesmo time e eles nunca perderam uma partida sequer, de amarelo. Encantaram povos de todos os cantos do mundo. Pelé virou rei, parou guerra, “expulsou árbitro”, foi recebido por reis, rainhas, presidentes, papas, chefes de estado onde pisasse com o seu fabuloso time, ajudado por notáveis e  fiéis assessores Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe, o melhor ataque de todos os tempos. Com 17 anos marcou 58 gols no primeiro campeonato paulista que disputou. A Vila Belmiro estava longe de representar o que aqueles artistas de branco faziam mundo afora. Principalmente o gramado, que tinha mais areia que grama, virava um pântano na pequena área quando chovia. Não havia campo ruim para aqueles negros fantásticos. Jogavam em campos de terra, areia, como acontecia nas excursões pela África. Vieram outras gerações, os gramados foram melhorando – não se pode deixar de reconhecer o esforço da Fifa nesse sentido – as bolas não  encharcavam em contato com a água, mantiveram o peso e, dizem alguns “experts”, passou a beneficiar os atacantes, o que discordo. Nunca apareceu tantos goleiros espetaculares como agora. Os sistemas evoluíram a partir da escola holandesa que encantou o mundo com o Ajax, base da Laranja Mecânica, sua fabulosa seleção da década de 1970. Na esteira dessa evolução tática veio o Barcelona de Pep Guardiola, liderada por Lionel Messi e a evolução do futebol espanhol com seus craques maravilhosos – basta citar Andres Iniesta – que conquistaram o primeiro mundial da história, em 2010, na África do Sul. Uma breve recordação de momentos marcantes do futebol, sempre jogado num campo retangular, marcados com linhas e medidas oficiais, superfícies naturais ou artificiais, uma bola, árbitros, etc. Sempre foi assim, até que algum gênio resolveu que o jogo precisava ser atrapalhado e mandou molhar o campo, sem necessidade  alguma. O que vemos hoje é um espetáculo grotesco de acrobacias indesejáveis e lances ridículos, nivelando – nesse caso – craques com jogadores médios, fracos, nenhum deles escapando de uma situação que precisa ser revista. Há times treinando com campo molhado. Ouço e sinto arrepios, quando alguém, os tais “comentaristas”,  insistem em dizer que o campo molhado torna o jogo mais rápido. Estão confundindo a velocidade da bola ao tocar a grama molhada com a velocidade do jogo, nada a ver, nenhuma relação. Uma coisa eu garanto, não trás nenhum benefício ao jogo. Não discuto esse assunto de tão óbvio, é apenas uma sugestão à Fifa, antes que alguma coisa pior possa acontecer além do que temos visto. Basta um “carrinho” mal dado e estará consumada a tragédia.

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