ADEUS, MEU CRAQUE

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É um sentimento natural de resistência às adversidades do ser humano: torcer para os mais fracos. Cansei de sair do cinema entristecido porque o bandido morria no fim. Ninguém é bandido por acaso, mas na telinha era representado um ator menor, ganhava menos que o mocinho e era menos bonito para ter direito a beijar a rainha de Hollywood. Às vezes dava certo, com Robin Hood, mas a orientação do autor, os gritos dos diretores, é sempre matá-los no fim.

Domingo todos nós, que não somos palmeirenses, torcemos pela Chapecoense. E eu, particularmente, por Cléber Santana. E falava já há algumas rodadas para meus filhos: poucos meio campistas atingiram o patamar que ele alcançou. Às vezes só notamos isto quando eles jogam contra o time da gente. Na virada da Chapecoense contra o Fluminense, que nos tirou a invencibilidade dentro do Estádio do América, por 2×1, ele não errou um só passe. Tão impressionado fiquei que conferi até no vídeo tape. Daí passei a acompanhá-lo em todos os jogos. E a Chapecoense cresceu sob a sua batuta.

A profissão de jogador de futebol é como outra qualquer. Você nasce com um dom, aprimora seus fundamentos e vai praticando. Se você não se machucar, e se cuidar, a cada dia vai conhecendo mais os atalhos percorridos pela bola. É ela que passa a correr. Não mais você. E a lentidão que o torcedor, o narrador lá de cima, imagina em craques que alcançam tal nível nada mais é do que o exercício do saber. Da inteligência. De posicionamento. Com o tempo vem o raciocínio de que um passe perdido será um contra ataque que precisaremos correr em dobro. E ele, Cléber Santana, como Robinho, Diego, Zé Roberto, atingiu o auge quando encontrou o equilíbrio e a maturidade para praticar o melhor do futebol.

Estava devendo-lhe uma homenagem porque excetuando o Moisés, do Palmeiras, ninguém foi melhor do que ele no brasileirão a desfilar talento por aquela faixa de raciocínio onde poucos raciocinam. E ainda batia faltas com precisão e categoria. Enfim, hoje foi uma manhã muito triste para todos nós, que amamos o futebol. Foi como perder uma família que estaríamos amanhã, na final da Copa Sul Americana, torcendo ao seu lado por atingir um feito poucas vezes alcançado por equipes de menor poder aquisitivo.

Vi Náufrago, o avião caiu e Tom Hawks voltou daquela ilha muito tempo depois. Assisti O vôo e Denzil Washington conseguiu virar a aeronave e salvar muitas vidas. Neste momento, gostaria que um diretor consagrado escrevesse um roteiro que trouxesse aqueles heróis chapecoenses de volta de uma ilha qualquer da América do Sul.  Pode ser até  Lost. Porque o Oscar de melhor ator deste brasileiro eu queria ter a honra de assistir ser entregue, ao vivo, em vida,  por uma questão de justiça, a quem nos proporcionou as melhores cenas em campo deste semestre: Cléber Santana. Descanse em paz, meu craque. E seus companheiros também.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

 

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