VICTOR PENALBER E O SONHO OLÍMPICO

Muito bom reencontrar Victor Penalber, alguns anos depois de vê-lo pela primeira vez disputando as Olimpíadas Escolares, em Brasília, com 15 anos. A primeira impressão foi a de estar diante de um potencial campeão, que me induziu a registrar na minha coluna no Jornal dos Sports a visão futurista, que continua sendo projetada rumo à Olimpíada de 2016, no Brasil: “Olho nessa ferinha”, escrevi. A “ferinha” virou primeiro do ranking mundial, amadureceu depois da suspensão e hoje tem consciência que poderá representar seu País na Olimpíada de 2016.

Aquela ferinha virou ferona, liderou o ranking mundial. Depois de um episódio que marcou sua carreira e sua vida pessoal, Victor superou todos os obstáculos, mudou de categoria e está lutando, literalmente, para ser o primeiro do mundo no ranking até 81 quilos. E, claro, poder realizar o sonho de disputar a Olimpíada em casa. Encontrei Victor no Centro de Condicionamento do complexo Maria Lenk, na Barra da Tijuca. Quase o mesmo Victor que conheci em Brasília, anos atrás. Super simpático, retraído, embora sorridente, só que mais forte, bem mais forte.

COMO ESTÁ ESSE TREINAMENTO ?

– Na verdade estou recomeçando. Planejamos, eu e meu preparador físico um micro ciclo até o mundial Masters, que foi agora, na Rússia, e agora estou recomeçando um outro micro ciclo agora na fase de base novamente para fazer o polimento mais perto do mundial de judô que vai ser no Rio, no final de agosto.

VOCÊ ESTÁ NUM BOM MOMENTO

– Esse último ano foi foi muito bom pra mim. Pensar que em abril do ano passado eu estava na posição 198 do ranking mundial aí começou uma fase muito boa a partir da medalha de ouro no Grand Slams do Rio, quando ganhei 300 pontos e pulei para a quadragésima posição e a partir daí ganhei três competições seguidas, em Abu Dabi e China e depois a medalha de bronze do Grand Slams de Tóquio, medalha de bronze em Paris, medalha de ouro no Pan-Americano e agora o bronze no mundial Masters, esses pontos todos em pulei de 198 para a primeira posição do ranking e agora com esse bronze eu caí para segundo mas estou apenas a dois pontos do número um.

DEPOIS DA TORMENTA

– Algumas coisas que acontecem na vida da gente que a gente não entende, no primeiro momento, e hoje eu vejo que o período em que eu fiquei parado foi a época em que eu mudei minha cabeça em relação à maturidade, principalmente, responsabilidade, essas coisas, eu me transformei de um menino que estava crescendo so no judô, eu havia chegado à seleção principal com apenas 17 anos e tudo aconteceu muito rápido e talvez eu não tivesse maturidade para lidar como aquilo e me transformou de menino em um homem e hoje eu estou mais preparado para lidar com todas as responsabilidades que envolvem a vida de um atleta de judô principal que é um esporte que vem crescendo muito no país.

ACABOU SENDO UMA GRANDE LIÇÃO

– É verdade. Todo mundo erra e a hora em que a gente erra o melhor e botar a cabeça no lugar e aprender com aquilo e absorver o máximo de lição que aquilo possa lhe passar. Eu tento aprender o máximo com meus erros. Acho foi fundamental para me transformar no atleta que eu sou hoje.

A OLÍMPIADA DE LONDRES PASSOU PERTO ?

– Nem tão perto assim porque eu estava tentando na categoria até 73 quilos mas estava muito difícil bater a categoria. Eu estava perdendo muito peso e na hora de lutava eu estava debilitado, não tinha muitas condições de lutar. Consegui alguns bons resultados, como um quinto em Abu Dabi, um terceiro na Coréia, na categoria de baixo mas não estava conseguindo desenvolver o meu judô.

A BARRA TAMBÉM ESTAVA PESADA

– A categoria estava muito bem representada. Eu subi de peso mas a categoria de 81 quilos estava muito bem representada, na época já havia uma disputa entre o Flavio (Canto) e o Leandro (Guilheiro) para ir a Olimpíada, ambos em posições altíssimas no ranking mundial. Mesmo que na época eu subisse de categoria e ganhasse todas as competições internacionais que eu participasse mesmo assim eu não atingiria os pontos que eles já tinham. Então, fiquei sem muita chance de ir pra Londres.

ISSO NA CATEGORIA 81 QUILOS ?

– Isso. O Flavio parou agora e está dando aulas pra seleção brasileira de ashi-waza que é a parte de chão, dá consultoria na seleção brasileira, ele já parou mas o Leandro ainda está em atividade.

O GRANDE ADVERSÁRIO ERA O PESO ?

– Eu acho que já era da categoria 81 quilos, meu corpo havia desenvolvido, estava mais forte, mas ainda assim eu acreditava no sonho olímpico, nos 73 quilos, achava que poderia alcançar os pontos se eu fosse bem nas competições. Tentei mas não tinha condições de lutar, chegava nas competições debilitado. Depois que subi de peso as coisas começaram a melhorar para mim, apesar de não ter chances de ir pra Londres. Em 2008 eu fui segundo, ainda bem novinho, era o segundo na seleção brasileira, até 73 quilos. Foi o Leandro, nessa categoria.

COMO SE DEU A PASSAGEM DE CATEGORIA ?

– Foi natural porque eu já estava com peso para a categoria até 81 quilos e ainda estava tentando ir pra Olimpíada no 73 até o momento em que resolvi subir de categoria as coisas começaram a fluir porque passei e me adaptar à categoria.

O SONHO OLÍMPICO TE MANTINHA NOS 73 QUILOS ?

– Foi mais ou menos isso. Eu já havia desenvolvido mas o que me mantinha na categoria era o sonho de poder estar na Olimpíada, em Londres, a tentativa de estar lá, mas realmente eu não tinha condições porque na hora de lutar eu não conseguia desenvolver o que eu podia.

COMO ESTÁ O VICTOR HOJE ?

– Eu nunca me senti tão bem na minha vida, fisicamente, e até de judô, mas eu acredito que ainda preciso evoluir em algumas partes técnicas bem específicas como o modo de andar no tatame, o modo de fazer os golpes de perna, algumas coisas que precisam ser acertadas, principalmente na parte técnica. Fisicamente estou me sentindo muito bem, forte, não “morro” nas lutas, ou seja, não canso quando estou lutando, de físico estou muito bem. Preciso mesmo trabalhar a parte técnica, agora.

ONDE VOCÊ VAI TRABALHAR MAIS ?

– Acho que preciso trabalhar a parte de ashi-waza , que são as técnicas  de pernas. Três das últimas quatro derrotas que eu tive foram no golpe de pernas, então preciso trabalhar essa lado. Agora, no World Masters eu estava me sentindo muito bem e acabei num vacilo sendo derrotado. No judô, um erro não é permitido porque um Ippon termina a luta, em qualquer momento, tanto nos primeiros cinco segundos quanto nos cinco finais de luta. Não dá mais para errar, principalmente no nível em que eu estou lutando hoje em dia. Não pode errar e tem que lapidar tudo direitinho.

QUEM É O GRANDE ADVERSÁRIO BRASILEIRO ?

– Ah, o Leandro. Ele está machucado, operou o cruzado, vem de cirurgia, mas é um atleta que é muito forte, tem duas medalhas em Olimpíada, medalhista em campeonato mundial, atleta fortíssimo. Quando voltar a lutar com certeza vai subir posições no ranking de novo e eu tenho que estar brigando sempre lá em cima, no ranking.

É O CARA A SER BATIDO ?

– É verdade, a gente sempre fala que é bom ter pelo menos dois atletas fortes na categoria porque um acaba puxando o outro pra cima, a gente tem que procurar evoluir sempre, acaba sendo bom pra todos, na verdade.

BOM COMO A SAÍDA DO NEYMAR PARA A EUROPA ?

– É verdade, não adianta a gente treinar só Brasil. Você tem que pegar no quimono dos caras lá de fora também, assim comparando com Neymar jogar com grandes craques na Europa, com um futebol diferente. É o que acontece no judô, a gente tem que pegar no quimono dos caras do Leste europeu, do Japão, da Europa, que fazem força, que fazem técnica, cada um luta de um jeito. Você tem que se adaptar a cada estilo de luta na hora de lutar. Então, não adiante só treinamento no Brasil, tem que fazer intercâmbio, lutar com todos os caras.

É COSTUME CONHECER COM LUTAM OS ADVERSÁRIOS ?

– A gente já conhece bastante coisa. Hoje a gente precisa estudar muito os adversários, como eu falei, o detalhe é muito importante, então a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) já criou um departamento só de estrategismo, como a gente chama, onde há filmes de todos os adversários para a gente estudar, um por um. A gente vê os vídeos, procura pelo nome, como ele luta com canhoto, como luta com destro, que tipo de técnica ele faz, é muito importante esse tipo de informação para a gente entrar no tatame e montar a estratégia de luta.

VOCÊS TEM ACESSO A ESSAS IMAGENS ?

– A confederação já ajuda a gente bastante. A gente tem um HD externo e eles vão transferindo aquelas lutas e a gente pode acompanhar no computador, em casa, e fica estudando, faz anotações, o estudo hoje é muito importante.

QUEM É O CARA DA VEZ LÁ FORA ?

– Tem um georgiano (Avtandil Tcheikishvili) que foi para o número um agora, ele é bastante novo e vem crescendo junto comigo essas últimas competições. Ele é bastante forte e está 1×1 na verdade, ele ganhou uma luta e eu ganhei a outra. É um atleta que está muito bem nas competições e eu preciso estudar um pouquinho mais e espero na próxima competição poder vencer.

O JUDÔ TAMBÉM SE DECIDE NO DETALHE ?

– O judô, futebol, outros esportes, tem muitos exemplos em que a gente tem que lutar até o último segundo realmente. A gente vê muitas lutas o cara ganhando com vantagens enormes, ganhando bem a luta e perder no apito final o cara vai a cai de Ippon. Já vi isso muitas vezes em competição, tem que estar mesmo concentrado. Em esporte de alto nível o erro não é  muito permitido.

AS NUDANÇAS NA REGRA FORAM BOAS ?

– Houve muitas mudanças, não só do ano passado para agora, que foram muitas, mas elas vieram para melhorar o visual do judô, que estava misturando um pouco de outras lutas que pegavam na perna, wrestling algumas lutas do Leste europeu estavam bastante presentes nas lutas do judô e agora não pode mais pegar na perna, “cortar” a pegada, que é arrancar a pegada do adversário com as duas mãos, somente uma, isso favoreceu um pouco o estilo de judô mais japonês, mais técnico, de pegar no quimono, de andar, fazer aqueles golpes grandes, bonitos, que a gente vê na televisão.

PARA VOCÊ MUDOU ALGUMA COISA ?

– Ficou melhor para quem aprecia o bom judô. Pra mim foi bom porque, na verdade eu gosto desse estilo de luta, eu tenho um pouco de judô misturado com o estilo de força europeu mas também tenho bastante golpes do estilo japonês, eu procuro fazer um estilo um pouco mistura. Pra mim, que gosto de derrubar foi muito bom.

JÁ COMEÇOU A PENSAR NA OLIMPÍADA ?

– Se Deus quiser. Na verdade é o começo do ciclo olímpico, ainda estamos no inicio e os pontos da Olimpíada no judô você pontua numa competição, após um ano dessa competição você perde 50% desses pontos e após dois anos você perde o valor total da pontuação. Por exemplo, a pontuação que eu tenho agora, seu eu parar de lutar ficarei zerado na olimpíada. Na verdade, para os jogos a pontuação começa mesmo em 2014. Vamos estar sempre trabalhando, mas estar entre os primeiros do ranking favorece bastante, ganha melhores posições nas chaves e só vai encarar os melhores adversários só na parte final. É importante estar competindo porque é só o começo do ciclo.

O JAPÃO AINDA TEM O MELHOR JUDÔ DO MUNDO ?

– A gente tem que citar alguns, mas o Japão  é sempre referência, se você vir uma bandeira japonesa pode ter certeza que o cara é duro. Pode nem ser conhecido, mas basta pegar no quimono do cara para ver que ele é duro. No Japão é quase como o futebol aqui, tem muito praticante de judô, mas na última Olimpíada quem se destacou bastante foi a Rússia que ganhou três medalhas de ouro no masculino, estão muito forte no momento. A França tem um judô muito forte. Tem muita gente boa, é muito nivelado a nível mundial.

QUEM É O CARA HOJE, NO MUNDO ?

– O grande cara hoje é o Teddy Riner, um francês, peso pesado (cinco vezes campeão do mundo e campeão olímpico, 2,04). Ele tem vencido quase todos os campeonatos desde 2008. Se não me engano perdeu apenas um, ou dois, não lembro, mas o “Messi” do judô, hoje. Aliás, bem maior que o Messi, rsrsrs. É o craque e muito grande.

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