CARTA ABERTA A ROMÁRIO

Durante as eliminatórias da Copa de 1994, perdemos da Bolívia por 2×0 em La Paz, empatamos com o Equador e ficamos ameaçados de ficar pela primeira vez de fora de uma Copa do Mundo. Zagalo era contra sua convocação, dizia que era um criador de problemas. Parreira, o treinador, era temeroso com ela. Nossos atacantes  eram Muller,  Careca e Evair. Precisávamos vencer o Uruguai na ultima partida e Muller se machucou. A imprensa se insurgiu e o povo foi às ruas exigir sua convocação. Você veio, vestiu a camisa e não apenas meteu dois gols e nos classificou para a Copa:  foi aos Estados Unidos e trouxe, como melhor jogador e artilheiro, o nosso caneco de volta.

Hoje, estamos ameaçados de uma outra eliminação: perder o lugar, e o respeito, arduamente conquistado nas ultimas décadas por sair do quadro da fome da ONU. Ter redistribuído a renda e retirado o tapete vermelho com que recebíamos aquela nefasta delegação do FMI. Alcançamos tamanha confiança mundial que nos credenciamos a sediar os dois maiores eventos do esporte mundial: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. De repente, nas telinhas, invadindo as casas do país e do mundo no ultimo domingo, congressistas entraram no lugar dos gols do Fantástico, onde você reinou por décadas, e começaram a marcar seguidos gols contra o país.

Em nenhum momento daquele jogo justificaram sua presença em campo. No lugar de lutar pelo mérito da partida, que era atuar na defesa ou ataque sobre o Impeachment da sua presidente, jogavam acenos para as arquibancadas. Se posicionavam junto às lentes para mandar um beijo para a família, mesmo antes de assinalar qualquer tento. Pelo contrário, agrediram as regras do Fair Play ao estender faixas no peito em favor de torturadores. E aceitar atuar debaixo do apito de um juiz sem moral. Envolvido até o pescoço em corrupção.

Nesta ressaca cívica que estamos esta semana, até meus amigos coxinhas ficaram constrangidos. O país que eles querem sem corrupção, que é o mesmo sonhado por nós, os petralhas, não merece que a Taça da Democracia, arduamente conquista pelo movimento da Anistia, das Diretas Já, que trouxe o nosso direito ao voto, a liberdade de expressão de volta, seja tão aviltada.

Hoje, vi fotos dos jogadores do Senado que voltarão a campo daqui a vinte dias para a partida de volta.  Convocados por Renan, Collor e Caiado outra vez lhe deixaram de fora. E poucos ali representam tão bem o povo brasileiro, dentro e fora de campo, em suas expressões máximas como a política e o futebol, como você. Então, tomo a liberdade de pedir que desembarque naquela comissão, convoque a imprensa, se posicione contra os que debocharam da constituição. Exaltaram a ditadura, afrontaram nosso  estado de Direito. O Brasil pede, unido, outra vez, os gols do Romário. Desta vez, em forma de voto. Você só não pode é ficar de fora. Seu carisma e origem, sua personalidade, só eles serão capazes de trazer o povo às ruas. O respeito de volta.

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