FORÇA, EMERSON !

Em 1972 eu e meu irmão Flávio, assinantes da revista Autoesporte e fãs do automobilismo, saímos pelas ruas de Três Rios fazendo batucada em um domingo. Alguns vizinhos, parentes e amigos que encontramos pela frente gritaram: “O Brasil ganhou de quem?”. Dois anos depois do tricampeonato no México, a cena era comum. Não a nossa resposta: “Foi o Emerson Fittipaldi, campeão mundial de F1!”. Tínhamos acabado de ouvir pela Radio Globo a transmissão direto de Watkins Glenn, nos Estados Unidos, e não dava para parar e explicar em nossa euforia quem era ele. Da importância daquela conquista. O país do futebol iria se render, dali pra frente, aos seus novos heróis das pistas. Mas, primeiro, tinha que surgir um gênio, o precursor, o desbravador para abrir as portas européias, da F1, e mais tarde, da F Indy, para o talento dos pilotos brasileiros. E Emerson Fittipaldi foi o novo Santos Dumont, o primeiro a alcançar o vôo baixo. E será sempre  o nosso maior  ídolo.

Hoje, lemos no jornal que a justiça de São Paulo, injustamente, confiscou  seu FD-04, com que disputou a F1, e o Penske 20, com que correu em Indianápolis, além dos troféus e medalhas da sua carreira. Não vou entrar no mérito da Receita Federal, fria e calculista, que jamais irá entender que os heróis que habitam nosso imaginário, e nos fazem pessoas melhores e mais felizes, não possuem habilidade para cuidar das coisas mundanas. A eles não foi concedido o dom de lidar com as coisas materiais. Comum, portanto, Neymar, Messi, Federer, Romário e, agora, Emerson viver a prestar contas as leis dos simples mortais. Casas, sítios, triplex, tudo bem, mas o que a Receita Federal vai fazer com os carros e as suas medalhas? Nem Sergio Moro, ou a Lava Jato, serão capazes de encontrar nos aerofólios marcas da OAS ou em seus pneus, rastros da Odebrecht.

Longe de ter alcançado algo ou dom parecido, tenho, como ex-atleta, uma medalha de ouro sob os cuidados da Caixa Econômica Federal. Aos 19 anos, eu Nielsen, Rubens Galaxe, Angelo, Nilson Dias, Abel Braga, entre outros jogadores da seleção brasileira de futebol sub-20, as  recebemos da CBD, e das mãos do seu presidente, João Havelange, pela conquista do Torneio de Cannes, na França. Para nós, já avós e espalhados pelo país, ela só tem preço porque o penhor precisou avaliar, mas para nossas vidas vale tanto quanto um filho. Ela é a prova maior da nossa luta, dos nossos sonhos e, principalmente, uma lembrança de um momento mágico. Único.  Então, é um acinte a ele e aos seus fãs tomarem-lhe todos os simbolismos  que o seu talento foi capaz de conquistar.

Portanto, Força Emerson! Se precisar de nossa presença aí em São Paulo no domingo, ocupando a Avenida Paulista com bandeiras do Copersucar, faixas da Lotus, para um ato de justiça, de lembrar ao TJ daí o que você representou e representa na vida da gente, estaremos juntos. Eles, os homens, não sabem o que estão fazendo. Ouvi esta frase na semana santa passada. Mas eles, os homens, continuam os mesmos.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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