A INDEPENDENCIA

O filme era um desses milhares que os americanos exportam para o mundo cultuando seu sagrado palácio, a Casa Branca. A invadi-la, os terroristas, rostos cobertos, caras de maus, exportando pelas telinhas o modelo bandido de todo aquele que se rebela ante sua opressão. O seu capitalismo selvagem. Mas o filme mantém intacto, celebra com orgulho, dois símbolos sagrados da nação: a bandeira e o presidente. Pois não bastava matar os seguranças, manter assessores como reféns para jogar a platéia contra aquela gente coreana do norte, vietcong e muçulmana, os poucos que ainda resistem a um gole de coca-cola e uma mordida no BigMac. Tinha que a sua cultuada bandeira ser queimada pelo inimigo. A seguir, tornar o seu presidente a vítima maior de toda a trama. E durante aqueles 120 minutos, cenas foram rodadas que desnudaram o respeito e a devoção que os americanos possuem pelo seu chefe da nação. Sua secretaria, mesmo torturada, desta vez não se jogou contra uma bala que vinha em sua direção, como o fez Kevin Costner, mas apanhou calada para não entregar o código dos mísseis nucleares. E quando as televisões, em cadeia, transmitiram seu cativeiro ao vivo país afora, as famílias em suas casas davam as mãos, e oravam por sua libertação.

Próximo ao dia 7 de setembro, o pseudo dia da nossa independência, chamou a atenção da nação o desrespeito com que o jornalista William Bonner tratou a presidente do nosso país durante a entrevista com os candidatos. Afinal, não sentou à sua frente apenas uma candidata à reeleição. Era a nossa Barack Obama de saias, mas o ancora da Globo a tratou como uma terrorista que acabara de invadir o Palácio Alvorada. Não é pela Dilma, vale pelo Fernando Henrique, e pode valer para o Aécio e a Marina. Quando uma nação não respeita sua autoridade maior, empossada dentro da constituição, que precisa percorrer um longo caminho político que envolve filiação, convenções, debates, exposição do passado esmiuçado ao extremo, exposta a busca no CPC e Serasa por um desvio de crédito, busca na família por um irmão distante que tenha desviado uma galinha do terreiro vizinho, é melhor que ela, nação, comece a rever seus conceitos sobre libertação, orgulho e independência.

Os americanos foram colonizados pelos ingleses, mas entraram em guerra, enfrentaram de frente seus inimigos e se livrarem de vez daquela escravidão. Nós não, colonizados pelos portugueses, holandeses e franceses, temos fingindo todos estes anos que nos tornamos donos da colônia, imperadores do pedaço, senhores da república. Mas enquanto uma viagem à Paris receber mais orgulho e postagem no facebook que uma estadia em Fernando de Noronha, quando empunhamos uma bandeira alemã contra uma irmã vizinha e latina, igualmente invadida, sofrida e torturada, continuaremos reféns do velho mundo. Vítimas de desrespeito explícito quando quem apresenta o Jornal Nacional se porta como uma entrela do Globo Rural. Preso aos colonizadores, cada vez mais distante da bandeira que só erguemos na Copa, do presidente da república que só os reverenciamos enquanto mortos (ou não foi assim com Jango, Jk, Tancredo e Vargas?) antes de trocar do diretor do filme ou (r)eleger o nosso novo ator principal, melhor antes disto é trocar de canal.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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