OBRIGADO, JÚNIOR

Vale para o futebol, mas serve também para o Cinema, o Teatro e a Dança. Toda arte coletiva tem suas estrelas, que recebem o Motorádio, o Premio Shell e o Kikito, desfilam pelo tapete vermelho e são cercadas pelos fãs. Tudo está no script e na súmula. Mesmo todo mundo sabendo que jamais brilhariam sozinhas, que precisam de alguém para tabelar e sair na cara do gol, contracenar para alcançar o maior dos desempenhos, sofrer uma falta na entrada da área para o craque encobrir a barreira e balançar as redes, astros que giram à sua orbita apenas alcançam na vida real o épico Ostracismo.

 Quando recebem os créditos na tela subindo em legendas, após cada exibição, a sala e a memória já estão vazias. É normal, comum, faz parte da vida. Mas se você não for um atleta Marina Silva, meia esquerda esquecida, que uma tragédia de véspera lhe devolva às telinhas, esquece, via ficar sem Ibope. E sem prestígio.

Escrevo isto porque não foi nada fácil a vida dos companheiros do Zico, Nunes, Adílio e do Leonardo, de várias gerações rubro-negras que entraram pelos portões da Gávea no ultimo sábado, durante o seu jogo de despedida. Como eu, o Peu, o Marquinhos, o Lico, Roberto, Marinho, Ubirajara, o Paulinho Carioca e até o Dionísio, o Bode Atômico. Entre outros.

Como tantos ex-atletas do clube que jogaram ao seu lado e foram convidados para a festa, a primeira grande jogada foi convencer o porteiro a abrir aquele cenário da Gávea para os nossos carros. Apenas dar acesso, nem precisava escancarar daquele jeito o portão quando o Bebeto chegou com seu bonito carrão. A segunda, convencer as garotas do crachá que éramos nós mesmos, subvips que fomos convidados para a festa. Mas bastou o Romário chegar que ela nos largou ali, em pé, sub suspeita no acesso à pulseira, submetidos a alguns minutos de descaso.

Neste minutos, entre o orgulho e constrangimento, todos nós conseguimos acesso aos vestiários e ao campo e, com exceção de meia dúzia que atraiu a atenção do SporTV, formaram filas para os autógrafos e foram ovacionados pelas arquibancadas, passamos imperceptíveis toda aquela manhã. Mesmo honrando novamente aquele manto sagrando que defendemos em uma época sagrada de nossas vidas. Sorte ter levado meu filho rubro-negro, o Bruno, pelo menos ele gritou meu nome e quando todos se viraram, não reconheceram seu ex ponta esquerda então apelidado de Pai. 

O Zé Carlos, Edu e o Aloísio, coitados, nem os filhos levaram. E a legião dos esquecidos sequer foi recebida por qualquer autoridade dirigente do clube, seja ele do passado, do presente ou do futuro.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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