ACEITE, ZICO !

É impressionante as contradições do nosso país. Quando aumentam o preço da passagem, a população vai às ruas em massa dizer um basta. E foi bonito, enquanto pacífico e ordeiro. E os donos dos transportes coletivos, gestores das pastas, trataram logo de rever suas planilhas. Agora, após o fracasso na Copa, a CBF promove uma caça às bruxas de satisfação pública sem critérios, onde atinge até os corretos profissionais, como o Dr. Runco, e convidam de cara uma raposa para tomar conta do galinheiro. E ninguém foi para as portas da entidade exigir que reduzam, pelo menos, o ágio de quem sempre cobrou alto ao intermediar a venda de jogadores. Imagina agora com os da seleção. Aceite, Zico!

Gilmar Rinaldi, após exercer sua carreira, se tornou empresário de jogadores. Chegou a bater de frente quando Ronaldo, o fenômeno do microfone fechado, entrou no ramo e lhe roubou algumas cabeças premiadas. No momento em que precisamos dar uma faxina nos clubes, para que seus atletas voltem a ser patrimônio da casa, cresçam respeitando sua história, cultuam a disciplina, não passem mais de mercadorias inacabadas que desembarcam por toda a Europa, a entidade máxima do nosso futebol nomeia uma raposa felpuda para negociar os amarelos pintinhos. Aceite, Zico!

Aceite porque só o comandante da Fazenda Brasil, um treinador de moral, de conduta ilibada, acima da mediocridade que permeia o futebol, como você, poderá castrar cada raposa disfarçada. Qualquer Tite da vida, Abel Braga, Marcelo Oliveira que se apresente, há de se curvar diante de suas garras afiadas por Marin. Tolerá-las, como suportamos, tamanha incompetência no alto comando do nosso futebol por tanto tempo. Mas agora, basta. Aceite, Zico.

Estamos cansados de reconhecer, nas tribunas de honra de todas as Copas, o Platini em meio aos cartolas. Beckenbauer, que simboliza a Alemanha, às vezes Passarela, a lembrar as glórias do futebol Argentino. Desta concorrida vitrine, é triste ver, replicados pelos telões do mundo, a falta de história de quem nos representa. A cara pálida do Marin, o prazo de validade vencido do Parreira, o Felipão que só deu caneladas na bola. Precisamos ter por lá um ídolo como você, a representar o Rei Pelé, o Gérson e o Rivelino, todos que fizeram a grandeza do nosso futebol dentro de campo, e que precisam deste espelho de Quintino para lembrar a todos que só nós somos penta. Por tudo isto, aceite Zico!

O futebol brasileiro precisa vestir as chuteiras da humildade e lhe pedir desculpas por jamais lhe ter estendido o tapete oficial. Até ao seu nobre craque irmão, o Eduzinho, foi confiado certa vez o comando da seleção. A você, eternizado pelo manto sagrado, só lhe restou dirigir o Japão e o Iraque. A fazenda Brasil, cujas crianças saíram recentemente chorando, ratos tomaram conta das obras, oportunistas venderam a alma, falsificaram os ingressos e, agora, raposas foram oficialmente apresentadas às novas e frágeis gerações, precisa que você diga, para o bem do povo e felicidade geral da nação do futebol, que aceita ser o novo técnico da nossa seleção de futebol. Antes tarde do que nunca hexa.

José Roberto Padilha é jornalista, ex-atleta do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz e Americano, entre outros.

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