POUPEM O TÚLIO DESSE VEXAME

 Túlio reveste-se – inadvertidamente – de maior ídolo do Botafogo, desde a fundação do glorioso clube da zona Sul do Rio, que deu metade da seleção brasileira bicampeã do mundo no Chile, em 1962, entre outras glórias. Extremamente presunçoso, apresenta-se como candidato ao milésimo gol, como se isso fosse para jogadores desse planeta, ao qual ele faz parte. A linha que separa a euforia da tristeza é extremamente tênue e bastante perigosa.

Aparentemente mal assessorado e covardemente manipulado por uma parte sem escrúpulos da imprensa, Túlio poderá jogar por terra todo o seu prestígio como grande atacante que foi, caso a empreitada não dê certo. É incontestável sua condição de ídolo da torcida do Botafogo, sua contribuição para a conquista do único título nacional e outras marcas que jamais serão apagadas. Faço parte desse grupo de admiradores e até respeito sua bravata, buscando os holofotes. Isso é uma coisa.

Valho-me de uma excelente matéria publicada no diário LANCE! , sábado (27-10) assinada por Raphael Bózeo e Wallace Borges, revelando sagacidades além da conta para chegar a uma conta que não bate de forma alguma tamanha a mistura de argumentos e farsas denunciadas na matéria. Parabéns ao pessoal do LANCE! Pelo belíssimo trabalho que, inclusive, preserva o ex-jogador por quem, repito, tenho grande admiração.

A questão é outra. Escrevo esse blog com abstração total, com o sentido profissional que cada tema deve ser tratado. É um extraordinário passatempo onde recebo apenas o pagamento pelo prazer de exercer minha profissão com respeito ao que faço, sem qualquer tipo de ingerência a não ser de minha consciência. Por isso li atentamente a matéria e peço permissão para usar duas frases que encerrariam o assunto sobre essa farsa monstruosa.

“Realmente não existe uma lista oficial. Antes tinha um cara que acompanhava isso, mas ele faleceu ha alguns anos. Então vou nessa conta de 993 mesmo, que é o certo. De repente, tenho até mais de 1000 gols e eu não sei”, brincou (bem colocado pelos repórteres) Túlio. Parece coisa de cinema de quinta categoria, não dá para acreditar que ele esteja brincando com isso.

O LANCE! Registra ainda um problema na contagem dos gols de Túlio desde o primeiro time em que atuou, o Goiás, entre 1988 e 1992. O clube informou oficialmente que o atacante marcou 91 gols e na “lista” de um amigo que morreu, infelizmente, estavam computados 187. Túlio justifica o “equívoco”. Vale lembrar que são 96 gols de diferença, o que não marcam, por temporada, Messi e Cristiano Ronaldo, juntos.

 

Túlio justificou: “Havia uma lista na Federação Goiana de Futebol mas houve um incêndio por lá, na década de 90 e perderam-se muitos artigos”. Ninguém merece, diria uma querida amiga.

Além da tradicional fanfarronice, Túlio mostra outra face de sua personalidade. Uma pessoa do bem, que exerceu sua profissão com grande talento e dignidade, construiu uma imagem sem qualquer contestação deveria ter mais cuidado com sua história, uma saga de vencedor que deixou para trás uma legião de admiradores, entre os quais – não me canso de dizer – me incluo.

Há muito tempo venho pesquisando sobre essa história do “gol 1000”. Acho um desserviço o que parte da imprensa faz neste caso. Não só por ferir um princípio básico do jornalismo – apurar a matéria antes de divulgar – como expor o ser humano a esse ridículo que Túlio está envolvido, podendo passar de ídolo a vilão, quando a mídia mundial questionar a relação de seus gols e ficar sabendo que não existe nenhum argumento que lhe sustente. Como explicar que seu biógrafo morreu e não deixou nada anotado e que a sede da Federação pegou fogo algum dia e queimou tudo. Ora, é demais.

Ouvi ex-jogadores sobre os “1000 gols” do Túlio. Quase todos ligados ao Botafogo, que não teve o cuidado de se preservar para não parecer co-autor da segunda maior atrapalhada desse tipo, depois do que fizeram com Romário, ao que parece não tão ingênuo quanto Túlio tem demonstrado ser. Gerson, responsável por tantos gols de Pelé, Jairzinho, Roberto Miranda e muitos outros, conhece o assunto e diz o que pensa, sempre:

– Ridículo, mesmo se ele estivesse jogando normalmente e não está. Foi candidato, cancelou para correr atrás dos 1000 só pra dizer que tem e os clubes aceitaram isso, acho isso um absurdo. Fez no Bonsucesso, arranjaram patrocinador para classificar e não classificou e foi embora. Acho um papel ridículo dele e dos clubes que apoiam isso. Se ele fosse profissional independente de idade ou gols, tudo bem. Isso tornou-se uma farsa ele não esta mas jogando, querer comparar com o que Pelé fez e brincadeira de mau gosto. Ele fez quando foi profissional mas não dizia que buscava mil gols, queria ampliar o horizonte dele, em consequência. Túlio é um andarilho atras dos 1000 que ninguém sabe se tem ou não.

O cantor Agnaldo Timoteo, botafoguense e admirador de Túlio, fez por menos. Reconhece o valor do ex-jogador como ídolo e considera justa a homenagem do clube.

– Túlio tem uma qualidade que é o carisma. É um jogador pobre, não ganhou dinheiro e quer fazer uma festa. Sou a favor dessa homenagem, que se faça a festa. Seria uma forma dele ficar feliz, uma grande festa e eu cantaria o hino nacional para ele. Vamos dar essa alegria ao Túlio. Quanto aos gols, ele sabe se tem ou não os números que anuncia.

Capitão do tricampeonato, Carlos Alberto Torres, ídolo por onde passou, líder em todos os times onde jogou, analisou essa inusitada situação no futebol brasileiro e mundial

– Acho que o Túlio deve ter alguma coisa que prove o número de gols que ele diz que fez. Pelo que ele representa como jogador deve ser homenageado sim. Em principio a gente tem que acreditar no que ele está dizendo. Mas o clube tem que se precaver, vendo a lista dos gols e providenciar as homenagens. Se não, qualquer um pode chegar lá dizendo que tem 999 e quer fazer o milésimo e como vai se resolver isso ?

Consagrado como Furacão da Copa, no tricampeonato do México, em 1970, Jairzinho é um dos maiores ídolos do Botafogo. Também é a favor do clube fazer a festa, sem entrar em detalhes.

– Eu abriria as portas para que ele fizesse o milésimo gol, que é o objetivo dele. Se ele jogasse no meu time seria bom pra todo mundo. Para ele, para o clube, para o futebol. Daria toda a sustentação para ele realizar seu sonho no meu clube. Não me compete analisar se ele tem ou não uma lista dos gols.

Amarildo fez história no Botafogo e na seleção brasileira, principalmente na copa do mundo de 1962, no Chile, quando substituiu Pelé, contra a Espanha, e marcou os dois gols da virada contra a então Fúria, na arrancada brasileira para a conquista do bicampeonato mundial:

– As coisas tem que chegar a um ponto onde tudo esteja bem claro. Ninguém prova que ele fez ou não, não há nada escrito. Não é uma coisa autentica, verdadeira. Eu posso dizer coisas verdadeiras, provar. As coisas forçadas não tem valor. Quem tem que ver isso é a imprensa, a torcida e apurar se esses números existem ou não. Se vai chegar aos 1000 gols parabéns para ele. Mas não é uma coisa clara, não há como provar. E esse gols seria contra quem, um time de fábrica ? Acho isso um exagero, parece coisa forçada.

Roberto Miranda formou com Rogerio, Gerson, Jairzinho e Paulo Cezar o maior ataque do Botafogo de todos os tempos. Um dos melhores do futebol mundial. Grande jogador e artilheiro, esteve na campanha do tricampeonato mundial, no México. Também fez sua analise do badalado “gol 1000”.

– Ele teria que ter tudo documentado para mostrar. Eu mesmo não sei quantos gols fiz. Mil gols não é assim. O único que provou foi o Pelé. Túlio faz muito marketing, como nós vamos acreditar no que ele diz, acho difícil. Mil gols é muita coisa. Ele quer fazer, diz que faz mas já ouvi muita gente dizendo que não acredita. Ele é muito brincalhão, as pessoas não acreditam. Outra coisa, com quem ele está jogando ? Ele tem muita influencia com alguns diretores que bancaram a ideia.

Algumas curiosidades povoam os devaneios de Túlio. Entretanto não devem ser levados em conta como brincadeira, como tem sido feito. Trata-se de uma farsa que pode manchar mais ainda a imagem do futebol brasileiro, em queda livre às vésperas de patrocinar a segunda copa do mundo. Além dos números contestados pelo Goiás, jogando pelo Syon Túlio computou 64 gols enquanto a Federação Suíça registra apenas 19. O Ujpest da Hungria não reconhece os 40 gols supostamente marcados, no Wilsterman, da Bolívia, foram 9 gols não 24 segundo o atacante. Volta Redonda e São Caetano também contestaram os números.

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