com quem está o dinheiro ?

Na fase áurea do rádio esportivo eu estava começando a frequentar os gramados. Eram tempos bons aqueles, com sinceridade. Lembra aquela  frase que o poeta escreveu numa letra de samba. Acho que foi o Ataulfo Alves. “Eu era feliz e não sabia”. Cada equipe tinha um locutor, comentarista e comentarista de arbitragem. Mario Vianna e Alberto da Gama Malcher foram os pioneiros. No gramado, dois repórteres e dois “pontas”. Aqueles que completavam as narrações de Waldir Amaral, Jorge Curi, Doalcei Camargo, Clovis Filho, dentre outros gigantes do rádio. Ficávamos atrás dos gols, enquanto a bola rolava, conversando, vendo o jogo e, claro, torcendo, sem deixar o pessoal perceber, na geral. Se não, chovia pedra, pilha, chinelo, o que estivesse à mão. Ainda podíamos acompanhar os “ataques” dos nossos times, mudando de lado, após o intervalo e as entrevistas. Tudo isso com total liberdade. Os jogadores, de verdade, craques maravilhosos, davam entrevistas a qualquer hora, batiam papo, falavam do jogo. Não é preciso citar nomes, não acham ?. Hoje, qualquer Zé Mulambo que faz um gol num clássico ou dois contra os pequenos vira herói, capa em todos os jornais, fotos bebendo água de coco, na Barra e  matérias nas “mesas redondas”, geralmente de qualidade duvidosa. Põem brinco de brilhante, aparecem com os cortes de cabelo  extravagantes, sem falar nas trancinhas e as chuteiras mais coloridas que um filme de Walt Disney, em HD. E as marias-chuteiras ? Aí já entra na vida pessoal do cara, deixa prá lá. Problema de cada um, do seu treinador, do clube. Isso era antigamente. Na era romântica do futebol. Ninguém era dono de nada. Todo mundo trabalhava, cada um na sua. Os clubes deviam, sim. Ao padeiro, açougueiro, aos funcionários, mas ia vivendo. Aí veio a televisão para destruir tudo isso. E conseguiu. Primeiro entraram em campo as placas de publicidade. Acabaram com os espaços do “pontas”, repórteres e fotógrafos. Muita gente ficou milionária, surgiram  agências de publicidade, que se multiplicaram e prosperaram. Pelo visto, só elas ganharam dinheiro. As dívidas dos clubes aumentavam assustadoramente. E as placas se multiplicavam, ganhavam formas modernas, se aperfeiçoaram. Progrediram. Os clubes, ao contrário, se afundavam cada vez mais. Depois veio a televisão, comendo pelas beiradinhas. Hoje faz a escala do campeonato, determina os horários dos jogos, manda, desmanda, proíbe entrevistas e, acreditem, suspende quem não cumprir o que está determinado. Com aval dos clubes, presas fáceis que são, de pires nas mãos, correndo atrás de esmolas. Mais grave que isso é não discutir seus interesses diretamente com quem tem os direitos de transmissão. Para isso foi criado o clube dos 13. Como o Flamengo, com 35 milhões de torcedores, mais que a população do Uruguai, Paraguai, Bolívia e Equador juntos, não briga por seus direitos ?. Recente pesquisa mostrou dívidas entre 250 e 350 milhões de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Juntos, Flamengo e Vasco tem mais torcedores que a população da Espanha, Argentina, Portugal, Ucrânia, Suécia, Dinamarca, Holanda e muitos outros. Quase uma Alemanha.  Por que não se unem para buscar seus direitos, o que estão esperando ?. O América está ameaçado de perder sua suntuosa sede, que iria a leilão para pagamento de uma dívida de um milhão de reais. Para onde foi o dinheiro das placas de publicidade. Cadê o faturamento com TV aberta de PPV, das transmissões dos jogos. ?.

3 thoughts on “com quem está o dinheiro ?

  1. Olá, Iata Anderson

    Iata, estamos vivendo a mordaça no futebol brasileiro. Os torcedores do Rio de Janeiro e
    São Paulo, só para citarmos como exemplo, estão sendo cerceados da informação do
    repórter de rádio e fotógrafos de revistas especializadas em futebol. Fico indignado.
    Será que só o veículo de comunicação que detém os direitos de transmissão do nosso futebol tupiniquim estão certos no tocante à informação correta? Se julgam DEUS com
    suas verdades absolutas. Além de tudo, horários pífios, como o das 22:00h no qual o
    torcedor fica refém dos horários de transportes e dessa violência desenfreada que assola
    o Brasil. Agora, tá virando moda jogo às 11:00h da manhã, 15:00h da tarde, enfim, não se dá o devido respeito aos atletas e torcedores. Seria o modelo desumano que é jogar no “morro” de La Paz, penso eu.
    É verdade, você foi feliz ao indagar o posicionamento dos gigantes do futebol brasileiro.
    Eles, sim, podem mudar esse panorama.
    Por outro lado, precisamos saber se existe uma boa vontade dos homens que gerem os
    grandes clubes. Se não, estaremos diante desse comodismo barato daqueles que só
    pensam em seus próprios interesses financeiros. A instituição, seja ela, Flamengo, Vasco,
    Palmeiras, São Paulo, Fluminense, entre outros, não podem ficar em segundo plano.
    Seria uma acinte à aqueles apaixonados que estão envolvidos direta ou indiretamente ao
    esporte, meu caro Iata.

    Abraço, Iata. Tô sempre ligado no “Bola em Jogo” hein! Se puder, me mande um abraço
    no próximo domingo. Estarei na escuta.

    Paulo Egydio, 34, modesto Jornalista de Jacareí-SP.

  2. Boa pergunta: pra onde foi o dinheiro? Aliás, ótimo texto! Tão bem escrito que dá até gosto de ler! Fico irritada qndo pego grandes jornais de esporte por aí e vejo erros e mais erros de português brotarem a cada parágrafo…

    Beijo grande

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