O FUTEBOL BRASILEIRO ANDA PARA TRÁS

O Campeonato brasileiro aproxima-se do fim e há muito pouco a comemorar. É comum em todo encerramento de temporada fazer uma grande festa. Não haverá festa, a não ser a entrega dos prêmios aos “melhores do ano”, promovido por uma empresa que comprou os direitos de transmissão. Na verdade uma festa particular. O torcedor fica fora, o que não é mais novidade. Não vota, não participa, não é convidado. A escolha dos “melhores”, sabe-se lá que critérios são usados, atende aos interesses de marketing, audiência, etc.  Criaram o Estatuto do Torcedor para nada. Mais uma lei que não “pega”. O que menos importa é exatamente quem banca o futebol, mas os cartolas se lixam para eles.

A CBF, justiça seja feita, está andando solenemente para o futebol brasileiro e deixa isso bem claro. Seu omisso presidente não está nem aí. Vive pensando em ser presidente da Fifa o que, até onde eu sei, não será nunca. Mas isso são outros quinhentos milhões. É um escândalo o que a Federação Internacional está fazendo em nosso país, a pretexto de nos brindar com uma copa do mundo, como se fosse isso a coisa mais importante para o povo brasileiro. E decididamente não é. O Morumbi foi vetado politica e vergonhosamente com a desculpa de falta de tempo, o que sobrou para fazer um estádio novo para o Corinthians. Um horror.

CBF a parte, vamos ver o que aconteceu nesse ano de copa do mundo, vencida pela primeira vez pela Espanha, que acabou salvando a pele do Blatter, outro incompetente, omisso, que deveria ter pulado do barco há muito tempo. Se quiser conferir leia “Como eles roubaram o jogo”, do inglês David Yallop, que conta como funcionam as coisas lá na suntuosa sede da Suíça. O presidente eterno está denunciando corrupção, compra de votos, e garante que vai apurar. Para de jogar pedra, Blatter, que pode cair uma em seu telhado. Aliás, esse assunto é um dos mais importantes desse livro. Fala em compra de votos. Não deixe de ler.

O campeonato brasileiro por pontos corridos foi uma conquista da mídia séria, independente. Não preciso entrar em detalhes sobre essa competição, de passado tenebroso, assustador, corrupto até a raiz, político até a alma. Foi uma batalha vencida por profissionais responsáveis, infelizmente minoria na imprensa esportiva. Os poucos que restam continuam lutando bravamente contra essa esculhambação que é o futebol brasileiro.

As partidas seguem a “orientação” da empresa que detém os direitos de transmissão. Ela decide sobre horários e condições de jogo. Pode chover canivete aberto que a partida será realizado a qualquer preço, por ordem superior. Ou seja, a grade de programação tem que ser cumprida. Os árbitros sabem disso, e os dirigentes da CBF acatam as ordens de cima. Internacional x Flamengo, no Beira-Rio, não seria realizado em nenhum campeonato do planeta. Só aqui. O árbitro, única pessoa, segundo a regra, que pode cancelar uma partida, não manda nada. Se desobedecer vai para a geladeira.

O horário de verão começou no domingo e as partidas estão mantidas para os horários condenados pelos fisiologistas, médicos, preparadores físicos, que sabem o risco que os atletas correm jogando às 15 horas. Todo mundo sabe disso, mas a CBF nada faz para mudar. Porque não manda na competição, não tem autonomia para fazer as modificações  necessárias. A parada técnica, criada por Jorge Rabello no campeonato estadual do Rio de Janeiro, não foi feita no Maracanã porque a TV não deixou.

Entra ano, sai ano e a gente continua ouvindo que há “armação” para a arbitragem beneficiar esse ou aquele clube. Eu, particularmente não acredito. Eles não são competentes o suficiente para orquestrar um plano desse. E se fossem eu continuaria não acreditando. Recuso-me a acreditar. E o que faz a CBF, vem a público se manifestar, dizer alguma coisa, defender seu diretor de árbitros, os profissionais do apito ? Nada. A desconfiança continua. Esses profissionais são entregues à fúria e incompetência de jornalistas desacreditadoss, torcedores, passionais, lamentavelmente em grande número.

As arbitragens são lamentáveis, é uma constatação.  Piora a cada temporada. Não tem respaldo para decidir o que manda a regra porque há uma força superior ao próprio departamento ou Comissão de Arbitragem. Não falo em desonestidade, evidentemente. Nem esquemas que, como já disse, não acredito. Há profissionais bons e maus, dependendo de como são observados. O chororô faz parte do jogo e há muito exagero nas reclamações. Até aí nada demais. Há um grupinho de privilegiados, isso salta aos olhos de qualquer  observador. São aqueles que retardam os jogos, dependendo da grade. Esses apitam sempre, estão em todos os sorteios. Não se preocupam com o desgaste físico e emocional que sofrem, como humanos que são.

Pior que isso são alguns tele-árbitros que comentam as 17 regras do jogo sem conhecer nenhuma delas. Inventam regras que não existem, confundem o público, jogam os árbitros contra os torcedores. Descobriram – não sei em que livro de regras – que a bola que bate num adversário tira o impedimento; que o jogador “ocupou espaço” e a bola bateu em seu braço, portanto, “eu daria o penalty”, uma forma de ficar em cima do muro; “a bola ia em direção ao gol”, bradou outro dia um desses gênios, que nunca, com toda a certeza, jogou sequer uma pelada. Eles querem lançar o “jogador totó”, aquele joguinho de bonecos com os braços colados ao corpo. São tantas aberrações que vou parar por aqui, sem antes recomedar a leitura do “Guia Universal de Arbitragem”, ou coisa parecida.

Não sei como as coisas vão caminhar até a copa do mundo. Honestamente não sei. Os clubes espanhóis estão se organizando para discutir os direitos de transmissão de seus jogos, com a presença do Real Madrid e Barcelona, que negociam separadamente, algo em torno de 150 a 200 MILHÕES DE EUROS para cada um.  Falou-se em UM BILHÃO de euros para serem  rateados entre os clubes da primeira e segunda divisão.

Alguns dirigentes acham muito e o questionamento será por uma conta entre 850 e 900 MILHÕES de euros por temporada. O Flamengo, que tem a maior torcida do pais, e a maior audiência, ganha  um milhão de reais por jogo (38 partidas no máximo), ou 38 milhões por temporada. Façam as contas e saberão porque os quatro grandes do Rio estão à beira da falência, caindo pelas tabelas, literalmente.

Segundo análise da consultora Crowe Horwath RCS, as receitas de TV representaram 28% da receita gerada pelo mercado brasileiro de clubes de futebol. Em 2008 a participação da TV sobre o total gerado pelo mercado foi de 23%, a mesma percentagem que em 2007. As receitas de televisão apresentadas, incluem todas as competições em que os clubes participam, como os Campeonatos Estaduais, Campeonato Brasileiro, Taça dos Libertadores, Taça Sul Americana e Taça do Brasil. Em 2009 o Flamengo foi líder em termos de receitas de televisão gerando cerca de R$ 44,2 milhões (19 milhões de Euros).

O aumento das receitas com TV no mercado brasileiro foi bastante significativo, graças ao novo contrato em vigor entre Série A e a televisão para o período de 2009-2011. Este contrato, além das receitas de TV aberta e TV fechada, também inclui uma remuneração variável pelas vendas de Pay per View.

O Campeonato Brasileiro, o carro chefe do futebol cinco vezes campeão do mundo, teve como única evolução desde o ínicio da década, a mudança do regulamento para pontos corridos, corrigindo uma aberração e atraso de dezenas de anos, em relação a todo o resto do mundo. Os campeonatos estaduais estão com os dias contados. Deficitários, mal organizados, um salve-se quem puder. O campeonato carioca (em homenagem ao seu passado histórico) foi o mais importante do país, por décadas seguidas, formou duas das três maiores torcidas do país: Flamengo e Vasco. Tudo isso graças a dirigentes competentes, sérios, honestos, que escreveram a história dessa competição que já foi disputada e acompanhada por todo o país, através do rádio.

Hoje, vivemos a era da televisão. Falar mais o que ?

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