“EU NÃO ESCOLHI O SALTO, O SALTO ME ESCOLHEU”

Maria Isabel Barbosa tem uma história inusitada que começa num campo de futebol e continua nas pistas de atletismo. A troca da bola pela vara de salto transformaram a vida da menina nordestina, de modos simples e muita personalidade. Em 2004, Isabel foi fazer teste para uma escolinha de futebol, no campo soçaite do América, em Caxias. Com muita velocidade e fino trato com a bola chamou a atenção de um observador da Mangueira, que fez o convite. Parece uma história comum, entre tantas outras, não fosse o treinamento para meninos e Isabel o destaque do jogo-teste. A Olimpíada de 2016, no Brasil, está nos planos da  atleta adolescente. Por que não ?

– O Russo (Professor Raimundo Nonato Figueira) me viu jogando, ficou entusiasmado com minha habilidade e preparo físico e fez o convite para eu treinar futebol na Mangueira. A Darlly (Luz, sua técnica) me viu jogando e me chamou para o atletismo onde comecei fazendo heptatlo. Eu me adaptei bem ao saldo em altura e às barreiras, mas detestava os 800 metros. Aquilo me arrebentava, achava muito chato e acabei largando. No primeiro teste que fiz, para 2,50m, saltei 2,75m.

Em 2008 a vascaína que adora jogar futebol estava em São Paulo disputando seu primeiro campeonato brasileiro (Categoria Menor) e foi ao pódio receber a medalha de bronze. O que era uma brincadeira, em três meses de treinamento começava a despertar na menina de 16 anos a vontade de fazer salto com vara.

– Nessa competição conheci a Fabiana Murer e comecei a me interessar pelo salto. Passei a encarar os treinamentos com mais disposição. Decidi que iria melhorar minhas marcas e tenho conseguido, graças ao trabalho com a Darlly, minha treinadora, que é muito competente e exigente comigo. Está sempre procurando o melhor, incentivando, orientando, motivando. Fiquei fã da Fabiana e vou tentar seguir seus passos, claro.

FOTO: VELOSO

Darlly Luz é professora de Educação Física da Mangueira e da Escola Naval. Formada na Universidade Estácio de Sá e Pós-Graduação na Faculdade Integrada de Jacarepaguá e Curso de Treinamento na IAAF. Está treinando Isabel desde quando ela chegou na Mangueira.

– O Salto com vara é uma modalidade muito difícil, requer dedicação e transpiração. O trabalho é constante, exige bastante do atleta, mas a Isabel tem muita vontade de progredir. Sua adaptação foi excelente, mas ainda precisa treinar muito. Cada vez mais. A base da formação do saltador é a ginástica olímpica adaptada. Ela ainda tem alguma deficiência, o que é normal para quem está iniciando. Precisa rolar melhor e treinar mais a entrada. É uma modalidade muito técnica e ela tem essa qualidade

Além das dificuldades normais de todo esporte olímpico, exceção do futebol, que tem vida própria, o salto com vara é muito complicado para quem não possui patrocinador. O material é muito caro (todas as varas são importadas) e tem que trocar de vara a medida em que as marcas vão aumentando. A Fabiana (Murer, recordista brasileira e sul-americana) trabalha com 10 varas.

– Eu conheço as dificuldades que vou enfrentar. As barreiras terão que ser ultrapassadas a cada passo. É importante o patrocinador, mas só vou conseguir isso com os resultados. Ninguém vai apoiar uma atleta que está começando se os resultados não aparecerem. Para isso tenho que trabalhar muito, o que tenho feito. Minha meta é chegar a 3,70m e conseguir material de boa qualidade para atingir meus objetivos. Estou totalmente integrada ao salto e quero continuar batendo minhas marcas para pensar em melhorar minhas marcas.

Para a técnica Darlly Luz a evolução de Isabel é muito boa. Os traumas iniciais foram vencidos e as marcas estão sendo batidas a cada competição. Claro que a Olimpíada de 2016, que será realizada no Brasil está nos planos das duas, mas isso só será concretizado com muita dedicação.

– A Isabel tinha um trauma terrível com a vara. Foi difícil tirar essa rejeição dela, toda a vez que aumentava a marca. Ela tinha pavor da altura, foi um custo se adaptar à mudança de material. É uma longa caminhada, sem uma parceria que nos dê melhores condições de trabalho. Tínhamos uma previsão de trabalhar com duas varas um bom período, mas a Isabel aumentou sua melhor marca de 3,20m para 3,35m na II Seletiva Juvenil, realizada semana passada (06-05) no estádio Celio de Barros, para o Brasileiro Juvenil que será realizado em junho, no Ibirapuera, em São Paulo. Temos que pensar em mudar o material.

Darlly confia no trabalho que está sendo feito e projeta para 2011 a quebra das melhores marcas brasileiras na categoria Juvenil, que é de 4.07m, de Sara Santos Pereira, agora na categoria sub-23, e Agrael Cristina, a primeira do ranking da Confederação Brasileira de Atletismo.

– Vamos trabalhar para que a Isabel possa bater essa marca em 2011 ou 2010, ainda como juvenil. Ela melhorou 15 centímetros na última seletiva, o que é muito bom considerando que ela está saltando com uma vara nova, ainda se adaptando ao novo material. A tendência é melhorar mais ainda essa marca e chegar com boa expectativa no Brasileiro, em junho. Esse período de adptação é muito importante para melhorar as marcas.

FOTO: VELOSO

Maria Isabel Barbosa nasceu no dia 10 de fevereiro de 1992, em Sapé, na Paraíba, de onde veio com oito meses. Mora com a mãe, Silvia Barbosa e a madrinha/empresária é a tia Fatima Barbosa, sua grande incentivadora. Torcedora do Vasco da Gama, mora  em frente ao Maracanã e basta atravessar a rua Professor Eurico Rabelo para assistir ao jogos do seu time,  quando pode.

2 thoughts on ““EU NÃO ESCOLHI O SALTO, O SALTO ME ESCOLHEU”

  1. Isabel vai longe !!
    É super talentosa, esforçada, disciplinada, além de linda, amorosa e estudiosa.
    Tem uma familia q a ama e lhe dá o maior apôio.
    Com certeza, fará o maior sucesso na Olimpíada de 2016…
    VAMOS TODOS TORCER !!
    Ela merece!!

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